Outro dia no sertão
Teve um fato inusitado,
O dono de um jumento
Fez maldade com o coitado,
Preparou facão e foice
E o jeguim aos peido e coice
Lutava desesperado.
II
Tudo isso era tarde
A capação ocorreu,
O jumento de agonia
Por sorte ele não morreu,
O homem pegou os ovos
Bem limpinho como novos
E pro seu filho ele deu.
III
O menino inocente
Correu para o galinheiro,
Tinha uma galinha deitada
De baixo dum paneleiro,
O menino a festejar
Botou os dois ovos lá
E correu para o terreiro.
IV
Ele encontrou com a mãe
E logo sem perder tempo,
-Ô mamãe sabe os dois ovos
Daquele jegue cinzento?
Deitei naquela galinha
Que vai ser uma rainha
Sendo mãe de dois jumentos.
V
A mãe não se assustou
Entendeu sua inocência,
E o tempo se passou
Devagar na paciência,
Foi quando chegou o dia
De nascer a nova cria
Que o menino tinha crença.
VI
O menino de mansinho
A galinha levantou,
Dos 11 ovos deitados
Apenas dois não gerou,
Justamente os do jumento
Que tava podre por dentro
Ficou fedendo e gorou.
VII
O menino ficou triste
Sem entender o azar,
O seu pai já decidido
Resolve tudo contar:
-Sua mãe não quis que eu falasse.
Mais jumento novo só nasce
Se o jegue e a jega cruzar.
VIII
Aí foi que complicou
A cabeça do menino:
-papai e o que é cruzar?
E o pai fala se franzino:
-Meu filho é uma coisa feia
O jumento pega a peia
A jumenta se arrupeia
Abrindo a porta do sino.
IX
-Aí o jumento enterra
O badalo de uma vez,
A jumenta trinca os dentes
Sem saber o que ela fez,
O jumento sem demora
Só deixa os ‘quiba’ de fora
E está pronta a gravidez. –
X
O menino entendeu
Como era o nascimento,
Nunca mais ele quis saber
Daquele jegue cinzento,
Que nem jega pega mais
E agora só vive atrás
Do amor de outro jumento.
Rena Bezerra