Artigo de Paulo Afonso Linhares “Uns e outros”
A Rede Globo de Televisão, uma das mais poderosas networks do planeta e que tem influenciado decisivamente os rumos políticos do Brasil nestas últimas quatro décadas, finalmente reconhece que uma parcela dos seus 100 milhões de telespectadores brasileiros – que denominam apenas como “uns” – dela não gostam. Sem dúvida, um marketing agressivo e revelador de que algo vai mal no império dos Marinho.
Depois de se tornar o veículo de comunicação mais importante da história do Brasil, com crescimento incomensurável à sombra do Estado, inclusive a partir do acesso a generosos financiamentos do BNDES e de outras instituições financiadoras oficiais, a Globo, como é mais conhecida, tornou-se tipicamente uma “fazedora de reis”, com tudo de malsão que isso representa numa sociedade que se pretende republicana e democrática.
Curioso é que a consolidação da Globo como maior veículo de comunicação brasileiro se deu na Ditadura Militar (1964-1985), embora tenha mantido um forte ritmo de crescimento nas décadas seguintes, inclusive, nos quatorze anos de governos petistas.
Claro, nesse meio tempo de governos pós-ditadura, as Organizações Globo, que inclui, também, veículos da imprensa escrita, como jornais e uma presença multifacetada na Internet, além das tevês aberta e fechadas, lançou mão de formas bem mais sofisticadas de influenciação política que aquelas utilizadas no passado por figuras emblemáticas do porte de Assis Chateaubriand, cujos métodos de pura chantagem e intimidação se tornaram célebres.
Sem dúvida, o estilo implantado por Roberto Marinho, o “dr. Roberto” para íntimos e lacaios, baseado na discrição e o padrão jornalístico de acendrado profissionalismo muito assemelhado com os métodos dos barões da imprensa norte-americana, deu uma dimensão de modernidade às relações com o grande público, com o mercado publicitário e, sobretudo, com o mundo da política, embora neste último caso não tenha desprezado os volumosos favores oficiais, prática promíscua que marca igualmente a trajetória do empresariado brasileiro em geral, no rumo da ideia de privatizar lucros e socializar prejuízos.
Sem dúvida, o estilo implantado por Roberto Marinho, o “dr. Roberto” para íntimos e lacaios, baseado na discrição e o padrão jornalístico de acendrado profissionalismo muito assemelhado com os métodos dos barões da imprensa norte-americana, deu uma dimensão de modernidade às relações com o grande público, com o mercado publicitário e, sobretudo, com o mundo da política, embora neste último caso não tenha desprezado os volumosos favores oficiais, prática promíscua que marca igualmente a trajetória do empresariado brasileiro em geral, no rumo da ideia de privatizar lucros e socializar prejuízos.
Aliás, nestes tempos de ações judicial-policiais contra a corrupção, o látego da Globo tem batido forte no lombo de alguns reputados corruptos, de modo seletivo e pontual, para atingir apenas aqueles que ela convencionou ter como inimigos, como é o caso da cúpula petista. Por razões pouco claras, tem batido com força, também, em Michel Temer e no grupo que o rodeia, certamente, ainda pela aliança que ele mantivera com o PT até a segunda eleição de Dilma Rousseff. Interessante notar que uma das regras de ouro da Vênus Platinada é a tendência de adular incondicionalmente os inquilinos do Palácio do Planalto, sobretudo, para manter-se como principal destinatária das vultosas verbas publicitárias federais.
Aliás, sob os governos petistas a Globo ‘comeu’ alto com as publicidades do Banco do Brasil ( com os caríssimos patrocínios dos noticiosos Bom Dia Brasil e Jornal Nacional), embora tenha mantido uma linha de duríssimo ataque a esses governos.
Nestes tempos de operações Zelotes e Lava Jato, uma indagação constante é por que até agora pouquíssimas alusões têm sido feitas sobre as tenebrosas transações ocorridas no BNDES, cujas liberações de generosos financiamentos a juros subsidiados – bem abaixo daqueles praticados no mercado brasileiro – foram vetores de gordíssimas propinas?” Certo é que os recursos que poderiam financiar alguns setores vitais da economia, na agricultura familiar, construção civil, transportes e indústrias manufatureiras em geral, o que incrementaria políticas de redução do desemprego, foram abocanhados por reduzido número de poderosos e privilegiados grupos econômicos, entre os quais o da Globo.
Nestes tempos de operações Zelotes e Lava Jato, uma indagação constante é por que até agora pouquíssimas alusões têm sido feitas sobre as tenebrosas transações ocorridas no BNDES, cujas liberações de generosos financiamentos a juros subsidiados – bem abaixo daqueles praticados no mercado brasileiro – foram vetores de gordíssimas propinas?” Certo é que os recursos que poderiam financiar alguns setores vitais da economia, na agricultura familiar, construção civil, transportes e indústrias manufatureiras em geral, o que incrementaria políticas de redução do desemprego, foram abocanhados por reduzido número de poderosos e privilegiados grupos econômicos, entre os quais o da Globo.
Informações que tem chegado à imprensa dão conta de que toda a modernização dos equipamentos da Rede Globo de Televisão, quando passou para a matriz digital, foi financiada pelo BNDES, além do socorro desse banco oficial à empresa Globocabo que, em 2002, estava em estado pré-falimentar, a amargar um passivo de R$ 1,6 bilhões. Quanto a Globo deve ao BNDES? Difícil saber, mas, seria um rombo mensurável na escala das centenas de milhões de reais. Sem conseguir um acordo com a Globo, dizem que Temer quer cobrar essa conta, embora a Banco do Brasil, a Caixa e os Correios, entre outros, continuem a irrigar a bilionária conta de publicidade da Globo.
Em suma, pode até ser que “uns” não gostem da Globo, como esta admite na sua autopropaganda institucional, mas, junto com os “outros” que formam a população brasileira de 207,7 milhões de habitantes (IBGE, 2016), seguramente têm pago a salgada conta dos mandos e desmandos do BNDES, inclusive, a dinheirama que irriga o caixa da Globo, essa que pode ser a bomba-mãe de todos os escândalos até agora não detonada. E a Globo não fala sobre isso, a despeito de desejar ser a voz iradacunda dessa legião de anjos vingadores do Ministério Público e do Poder Judiciário, investidos como os novos ‘salvadores da Pátria’ e guardiões da moralidade pública. Como diria o grande Ariano, filósofo das caatingas, “nesse angu tem caroço”. Plim, plim.
*Paulo Afonso Linhares
Postado em 9 de novembro de 2017