Artigo: RN: Nosso estado de insegurança. Por Marcus Aragão
Foto: Adriano Abreu
Já se passaram aproximadamente 80 dias desde o “Salve” das facções criminosas, quando o crime imperou livremente no RN. Natal ganhou o título de 4ª cidade mais perigosa do planeta e a mais violenta do Brasil, segundo o World Population Review de 2020. Não é apenas essa pesquisa que aponta nossa cidade como um lugar altamente inseguro e violento. As classificações podem variar, mas a certeza da criminalidade permanece.
O Estadão divulgou o ranking das cidades mais violentas do mundo, elaborado pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública, sediado no México. Segundo a ONG, Natal ficou em 28º lugar entre as mais de 10.000 cidades existentes nos 5 continentes. Não é à toa que aqui o “Salve” das facções paralisou e aterrorizou toda a população.
— O governo federal enviou 100 milhões de reais! Onde está esse dinheiro?
Apesar da situação estar saindo do controle, apesar dos 100 milhões recebidos e apesar de quase 80 dias desde o “Salve” das facções, nosso efetivo da Polícia Civil ainda continua com um déficit de mais de 70%. Hoje, a Polícia Civil conta com um efetivo de 1550 policiais, entre agentes, escrivães e delegados, para garantir a segurança de todo o RN — Você não sabe, mas deveríamos ter 5.150 pois este seria o número adequado de policiais para cobrir todo Estado. O atual concurso em andamento oferece em média 350 vagas, o que não será suficiente nem para repor as aposentadorias. O déficit no efetivo da PM é enorme, e nem se fala da qualidade dos equipamentos. Ah! Compraram alguns equipamentos? Para quem serão destinados?
— Vou repetir. Cadê os 100 milhões?
No último artigo sobre o “Salve” das facções, eu ainda lamentava a tremenda propaganda negativa do nosso estado em todo o Brasil e no mundo. O RN ocupou milhares de minutos nos principais telejornais, blogs, feeds, stories e mensagens de WhatsApp por vários dias seguidos, em uma escalada nunca vista. Mas hoje vejo que a situação é tão crítica que o potiguar quer apenas o mínimo para sobreviver, quer trabalhar e ir para casa em paz. Atrair turistas é uma necessidade real, mas parece um desejo distante quando estamos em uma terra arrasada e nem podemos sair na esquina. Você percebe o absurdo que estamos vivendo? Há algumas semanas, mataram um trabalhador em frente à Smartfit, uma academia com filiais em todo o Brasil. Como podemos vender o RN enfrentando notícias assim?
— Não vou parar de perguntar. Quantos policiais foram contratados com os 100 milhões?
Em 2000, a taxa de homicídios no RN era de 9,57 assassinatos por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência publicado pelo IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2010, esse índice subiu para 25,5, e em 2017, alcançou o pico de 62,8 assassinatos por 100 mil habitantes. Uma escalada de violência nunca vista. Imagina como deve terminar 2023!
— Ontem era receio, hoje é medo, e amanhã será pânico. E os 100 milhões?
A população, que espera sentada pela melhoria da situação, em breve estará aguardando amordaçada e com um capuz na cabeça. O tempo parece estar contra nós, pois a situação não melhora, apenas piora. O governo, você sabe que não consegue resolver, mas e o seu deputado? O que ele fez? Diante desse caos de violência, onde nossa polícia tenta trabalhar com apenas 30% do efetivo, não vi nem mesmo uma tentativa de CPI. Será que alguém se beneficia com essa situação? E os 100 milhões?
O potiguar segue com os braços levantados, ora esperando por um milagre, ora porque tem uma arma apontada para sua cabeça.
O pior ainda não passou.
*Marcus Aragão
Instagram: @aragao01