Candidatos à presidência na Argentina prometem adotar políticas brasileiras
Há um toque de Brasil na campanha dos presidenciáveis na Argentina. E isso aparece em algumas de suas promessas de campanha e nos discursos eleitorais.
À frente nas pesquisas de intenção de voto, o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, prometeu a aliados peronistas que importaria do país vizinho a ideia de um Ministério das Cidades, criação que ele fez questão de frisar que era do ex-presidente Lula.
Um dos políticos brasileiros mais bem avaliados pelos argentinos, Lula é frequentemente citado pelo candidato em seus discursos e entrevistas.
Em maio deste ano, Scioli voou para São Paulo onde se reuniu com o ex-presidente brasileiro por mais de quatro horas e divulgou fotos do encontro.
Na Argentina, Scioli é considerado o político mais próximo do PT de Lula e Dilma. Ele representará nas urnas a agremiação da presidente Cristina Kirchner, a Frente para a Vitória.
UPA HERMANA
Em discurso nesta segunda (27), Scioli deu mais um passo nessa aproximação. Anunciou que Lula deverá visitar a Argentina nos próximos meses para participar de um ato de sua campanha: a inauguração de uma das oito UPAs (unidades de pronto-atendimento) que pretende abrir na província de Buenos Aires até o fim de 2015.
Em seus vídeos de campanha, Scioli afirma que, se eleito, pretende expandir o projeto “trazido do Brasil” para toda a Argentina. Inspirada na administração do amigo Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, a instalação de UPAs é a principal vitrine do candidato na área da saúde.
Em 2010, Scioli esteve no Rio duas vezes para ver o projeto, uma delas em outubro, no dia do pleito que levou à reeleição de Cabral. A oposição critica as unidades, indicando que os problemas das UPAs brasileiras também foi replicado na Argentina.
“Estas unidades carecem de equipamentos, profissionais e até da mínima assepsia”, criticou o socialista Gerardo Milman, candidato a prefeito de Avellaneda, uma das mais populosas cidades da província de Buenos Aires.
FUNDEB ALVICELESTE
Outro que promete importar experiências brasileiras é o candidato Sérgio Massa, da Frente Renovadora.
Ex-prefeito da cidade de Tigre, Massa incluiu em suas promessas de campanha a criação de um fundo para a educação à semelhança do brasileiro Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica).
Os recursos seriam providos pelo governo federal, tal qual o do Brasil, e repassados diretamente aos diretores das escolas e professores, que poderiam usá-los de acordo com as necessidades locais.
Gustavo Iaies, representante de Massa para os temas de educação, esteve no Brasil algumas vezes durante a gestão de Fernando Haddad no ministério e elogia a iniciativa brasileira.
“Foi uma boa política, que impulsionou as escolas. E isso deu resultados ao Brasil em termos educacionais nos últimos anos”, diz ele.
Massa disputará as primárias de seu partido com o candidato José Manuel De la Sota, governador de Córdoba, uma das províncias com mais investimentos produtivos brasileiros na Argentina.
Ex-embaixador da Argentina no Brasil, De la Sota vem defendendo que o país volte a se aproximar do vizinho.
Em seu programa de governo, sugere que o Brasil pode ajudar a Argentina a voltar aos mercados globais de crédito, contribuindo na solução do impasse com os chamados fundos abutres.
A campanha do cordobês é a mais parecida com o que os brasileiros conhecem de um aparato eleitoral. Tem jingle e um caderno com propostas de governo que muito se assemelham aos que apresentam os políticos brasileiros durante a eleição.
Não é à toa: De la Sota contratou o marqueteiro do PT, João Santana, para sua campanha na Argentina. É o único publicitário brasileiro em atuação na eleição do país vizinho neste ano.
Além do material visual, Santana também fez consultoria para o candidato em um debate televisivo, no mês passado. Especialidade brasileira, o confronto na TV é algo novo para a política argentina – nunca houve um debate entre presidenciáveis no país.
Folha Press
Postado em 28 de julho de 2015