Por Vanessa Sulina – Fala Saúde – R7
Lá no começo de dezembro escrevi um post contando para você o quanto eu sofro (agora menos e já já vocês entenderão melhor) de enxaqueca. Relatei as minhas dores insuportáveis de cabeça — que por vezes vêm acompanhadas de náuseas, vômitos, fobia a luz etc.
Estava bem cansada e desanimada de passar por ter passado por tantos médicos desde a adolescência, sem nenhum tratamento efetivo. Mas estava sofrendo tanto que havia prometido a mim mesma que após meu casamento (que aconteceu no fim de setembro) eu investiria em um BOM especialista na área para melhorar de vez da enxaqueca (ou pelo menos tentar).
Foi então que descobri a neurologista Thais Villa, chefe do setor de cefaleia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretora clínica da Headache Center Brasil.
Marquei a consulta no início de dezembro. Foram quase duas horas dentro do consultório. Relatei todo meu histórico (pai e mãe com mesma doença), dores desde adolescência..etc etc. RESULTADO: diagnóstico: enxaqueca crônica: ou seja, Vanessa (eu mesma) sofro de mais de 15 dias de dores de cabeça no mês (eu fiquei muito chocada com essa informação).
Mas então como resolver? Hoje em dia, o tratamento da enxaqueca deve se basear em prevenir as crises, ou seja, evitar que elas aconteçam, me explicou a neurologista.
— Nesse contexto os chamados medicamentos preventivos são os mais estudados, e há mais tempo utilizados, e podem ser eficazes em evitar as crises. Nos últimos cinco anos, a toxina botulínica aparece como uma opção importante para prevenção da enxaqueca crônica.
Terapias não medicamentosas como a neuroestimulação ajudam também, como a terapia psicológica, acompanhamento nutricional, fisioterapia, exercícios físicos orientados. Então, novos estudos na área mostram que o tratamento preventivo combinando terapias medicamentosas e não medicamentosas pode ser mais eficaz na prevenção das crises de enxaqueca.
Thais explica que as medicações preventivas são usadas “em pessoas
que têm enxaqueca com frequência semanal ou maior, ou crises muito
incapacitantes que não respondem ao tratamento somente da dor, que é
feito com analgésicos”.
— O tratamento deve ser feito por no mínimo seis meses, mas sua
duração deve ser individualizada. Espera-se com medicações preventivas
uma melhora de 50% da frequência e intensidade das crises após dois ou
três meses de uso continuo, ou seja, tomado diariamente.
Como já expliquei pra vocês, a minha enxaqueca é crônica. Mas há quem
tenha a episódica. Essas podem ser tratada com mudanças de estilo de
vida, ou seja, evitando “situações desencadeantes e terapias não
medicamentosas citadas acima, e se mais frequente que uma vez por semana
e crises muito intensas, a medicação preventiva deve ser escolhida pelo
neurologista de acordo com cada paciente”.
Botox para enxaqueca?!
Para mim foi novidade a utilização da toxina botulínica para
tratamento da enxaqueca. Segundo a neurologista, o “tratamento é eficaz e
especifico para enxaqueca crônica, principalmente aquelas onde vários
tratamentos com medicamentos foram tentados com pouca ou nenhuma
resposta, e onde existem pela dor de cabeça quase diária ou todos os
dias uso excessivo de analgésicos, que gera a chamada dor rebote, e uma
piora ainda maior da enxaqueca”.
— Na enxaqueca crônica a frequência alta de dor de cabeça mantem um
processo de inflamação continuo, e essa inflamação crônica também gera
mais dor, um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. A toxina botulínica
vai agir bloqueando essas substâncias inflamatórias e evitando nova
inflamação e novas dores de cabeça, um tratamento preventivo especifico e
eficaz para descronificação da enxaqueca.
Melhorei quase 50% em 1 mês, viu!
Já retornei ao consultório e constatamos que em 30 dias eu melhorei
40% da minha enxaqueca. O remédio fez muito efeito e certamente o uso do
Cefaly, o aparelho de neuroestimulação que estou utilizando 20 minutos
por dia, também está ajudando no processo. Mas como eu cheguei a essa
conclusão da melhora? Fazendo o diário da enxaqueca: todos os dias que
sinto dor, eu anoto a data, o horário do início da dor, o que eu comi na
refeição anterior e se tomei ou não remédio. Assim, a médica consegue
ter o controle. Aliás, se você sofre dessa doença, comece a adotar esse
hábito agora mesmo!
Psicólogo faz parte do tratamento
O gatilho número 1 da enxaqueca para a maioria das pessoas e o
estresse emocional e ansiedade, explica Thais. Além disso, é comum a
associação de sintomas de ansiedade e mesmo depressão em pessoas com
enxaqueca. Por isso, é importantíssimo que o paciente que sofra com essa
doença busque ajuda de um pscicólogo.
— A psicologia faz uso de várias técnicas para auxiliar na prevenção
da enxaqueca como terapia cognitiva comportamental para saber lidar com
esses gatilhos de ansiedade e depressão, e técnicas de relaxamento como
biofeedback, para melhor prevenção da dor de cabeça. Esse tratamento e
especialmente eficaz em pessoas com enxaqueca crônica.
Rémedio, botox, nutricionista… enxaqueca exige uma equipe multidisciplinar
Os gatilhos da doença, conforme expliquei no meu outro texto, são
vários. E o tratamento da enxaqueca e dores de cabeça combinando terapia
medicamentosa e não medicamentosa pode ser mais eficaz na prevenção e
controle da doença, segundo explicou a médica.
— Morei nos EUA por um ano fazendo pesquisas na área de dor de cabeça
e enxaqueca. E lá conheci esse conceito dos “Headache Centers”,
clinicas voltadas especificamente para o tratamento das dores de cabeça
que ofereciam tratamento médico e multidisciplinar para seus pacientes.
Eu planejei trazer esse modelo de tratamento para o Brasil e em 2016
inauguramos o primeiro centro de tratamento multidisciplinar e integrado
da dor de cabeça do pais. O tratamento da enxaqueca deve ser
individualizado, a doença tem muitos aspectos genéticos e também
ambientais que precisam ser abordados e são diferentes de pessoa para
pessoa. Na nossa clinica procuramos oferecer um plano de tratamento para
cada pessoa com dor de cabeça, levando em conta seu diagnóstico,
histórico, gravidade, experiências anteriores, seus desejos e
necessidades. Essa parceria garante um tratamento com muito mais chance
de sucesso.
Porque enxaqueca não tratada…
Quando não tratada corretamente, a enxaqueca pode levar a
“cronificação da doença, ou seja as crises ficam mais frequentes e
intensas, levar ao uso excessivo de analgésicos, que além de não tratar a
doença, aumenta riscos de transtornos de ansiedade, depressão,
distúrbios de sono, dificuldades de atenção e memória e, em casos da
chamada enxaqueca com aura, aumenta riscos de AVC e infarto cardíaco.
Isso sem contar a queda de produtividade, os dias de trabalho e lazer
perdidos e a piora marcante e progressiva da qualidade de vida”.
Do R7