Por Josias de Souza
Lula andava meio distante dos refletores. Reapareceu na noite passada, num encontro do PT, em Brasília. Além dos holofotes, reencontrou os companheiros, a militância e, sobretudo, o microfone. Teve um surto de loquacidade. Falou por 45 minutos. Num instante em que avançam as investigações do cartel de empreiteiras suspeitas de trocar propinas por contratos na Petrobras, Lula entregou-se à ironia.
Disse que o tucanato se comporta como se o PT fosse o único partido a custear suas campanhas eleitorais com dinheiro recolhido de empresas. “Parece que os tucanos arrecadam dinheiro numa campanha como se fosse Criança Esperança. Não tem empresário.”
Pela primeira vez, Lula comparou o mensalão com o petrolão. Repetiu a tese segundo a qual o julgamento que levou a cúpula do PT para a Papuda foi político. “Os companheiros que foram julgados já estavam condenados”. Insinuou que haverá novo pré-julgamento. Quando o ministro Teori Zavascki, relator do caso da Petrobras no STF, for analisar o processo, “a imprensa já condenou os nossos companheiros”, disse.
Vão abaixo os principais trechos do pronunciamento de Lula, cuja íntegra pode ser escutada no rodapé:
— Bola da vez: “Agora, a bola da vez somos nós. Agora é o PT. O PT não pode continuar crescendo. O PT tem que ser atacado, de todos os lados, em todas as frentes, com artilharia leve e pesada. Vamos fazer uma guerra eletrônica contra o PT. Não importa que seja verdade ou que seja mentira. Vamos tentar difamar o PT. Vamos tentar destruir esse partido.”
— Mensalão e Petrolão: “Quando houve o processo do mensalão, os companheiros que foram julgados já estavam condenados. Esse processo da Petrobras, que está acontecendo agora, o que a gente está vendo é que, quando esse processo chegar na Suprema Corte, que o ministro Teori for analisar a delação premiada, criada por nós, a imprensa já condenou os nossos companheiros. Ou já condenou aqueles que não são companheiros e que estão sendo citados.”
— Investigações X interpretações: “Eu dizia na reunião da bancada hoje: a gente reclama das investigaçes? Não! A gente reclama é da interpretação das investigações. Não tem um instrumento nesse país que esteja servindo para investigar e para aparecer tantas denúncias de corrupção como os instrumentos que nós criamos. Nós! Ninguém! Fomos nós que criamos todos os instrumentos que permitem às pessoas compreenderem: neste país, a partir do governo do PT, ninguém será impune se não for honesto, se não for ético e se não fizer as coisas corretas. Esse partido não nasceu pra fazer igual.”
—Papel higiênico: “Eu, de vez em quando, vejo o jornal denunciar corrupção em ONG. Aonde pegou o dado? No Portal da Transparência do governo. A lei do acesso à informação é nossa, fomos nós que criamos. Daqui a pouco eles querem saber a cor e a qualidade do papel higiênico que se usa no palácio.”