Covid-19: Mais de 500 pacientes morreram à espera de leitos de UTI no RN
Pacientes estão morrendo antes de conseguirem ser transferidos para leitos de UTI nos hospitais — Foto: Anna Alyne Cunha / Intertv Cabugi
A babá Laisla Coutinho viu o pai e o avô morrerem por complicações da Covid-19 em menos de 24 horas na UPA Cidade Satélite, na Zona Sul de Natal. O pai, o comerciante Luisvaldo Bezerra, de 49 anos, aguardou por quatro dias por um leito crítico (de UTI ou semi-intensivo) para o tratamento da doença, mas não resistiu à demora.
Luisvaldo se tornou mais um entre os 534 potiguares que morreram à espera de uma internação em um leito de UTI desde o início da pandemia. Esse número representa cerca de 13% do total de 4.024 mortes pela doença no estado. A marca que superou as 500 mortes foi atingida no último dia 11.
Mulher perde o pai e o avô que estavam internados com Covid na UPA de Cidade Satélite
Os dados estão no Regula RN, plataforma que monitora em tempo real as internações e a rede de assistência para Covid-19 em todo o estado. A consulta foi realizada às 15h35.
Laisla soube da morte do pai em frente à UPA na terça-feira (16), exatamente o dia em que mais pessoas morreram à espera de um leito de UTI no estado nos últimos oito meses: 10 pacientes.
De acordo com o Regula RN, esse número foi atingido pela última vez em 24 de junho de 2020. Apenas em outras duas datas mais pessoas morreram em um mesmo dia na fila de regulação para um leito de UTI: 7 de junho (12 óbitos) e 6 de junho (11 óbitos).
RN registrou em 16 de março 10 mortes de pacientes à espera de um leito de UTI — Foto: LAIS-Sesap
A plataforma aponta que há um crescimento nas últimas semanas de pacientes que morrem à espera de uma UTI. Apenas em março, em 17 dias, 69 pessoas morreram dessa forma – média de aproximadamente quatro por dia.
Nos últimos 30 dias, apenas no dia 1 de março não houve óbito de paciente à espera de leito.
Como base de comparação, em fevereiro, em 28 dias, morreram 63 pessoas nesta situação. Em janeiro, durante 31 dias, foram 19 pessoas, e em dezembro, 25.
Os pacientes são regulados com a necessidade de uma UTI, mas não conseguem ser transferidos em função da alta taxa de ocupação dos leitos críticos em todo o estado. Nesta quinta, 133 pessoas aguardavam na fila de transferência.
Diante desta pressão sobre os leitos de Covid-19, o estado também tem batido recordes de pacientes internados. Atualmente, são mais de 1.060 de acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).
Só atividades essenciais
Para conter a taxa de transmissibilidade e diminuir a pressão sobre os leitos de saúde, o governo do RN publicou um decreto que passa a valer a partir de sábado (20) e vai até o dia 2 de abril fechando todas as atividades não essenciais no estado. O decreto é assinado também pelo prefeito de Natal, que disse que a situação ‘chegou ao limite’.
*G1 RN