Uma doença de nome difícil: esporotricose. O mal, que é transmitido por gatos aos humanos, tem se espalhado pelo estado. Segundo a Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria estadual de Saúde, no ano passado foram feitas 982 notificações da doença, o que representou um aumento de 20% em relação a 2014, quando foram registrados 818 casos. Este ano, até 2 de junho, foram 226.
Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a esporotricose é uma micose que se instala na pele e costuma ser transmitida por gatos aos humanos.
— O fungo causava a doença em pessoas que mexiam com terra ou planta contaminadas. Mas, de 1998 para cá, esse padrão mudou. As pessoas com a doença começaram a chegar à Fiocruz após serem mordidas ou arranhadas por gatos infectados. Quando a transmissão era através da terra, atendíamos de um a dois casos por ano. A quantidade de fungos na terra é menor e mais diluída. O gato concentra muito fungo, que vai se multiplicando — detalha Dayvison Freitas, pesquisador em dermatologia infecciosa do Instituto Evandro Chagas, da Fiocruz, e doutor em medicina tropical.
NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA
Os pacientes eram atendidos na Fiocruz, em Manguinhos, mas, após o aumento do número de casos, o controle passou a ser feito pelo estado. O quadro é tão sério que, a partir de 2013, a notificação de casos em humanos atendidos em unidades públicas ou consultórios particulares passou a ser obrigatória no Rio. Segundo o estado, apesar do avanço da doença, por falta de série histórica, não é possível afirmar que há uma epidemia.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio de Janeiro, Egon Daxbacher, explica que a esporotricose é uma micose profunda e, por isso, é transmitida apenas pela mordida ou pelo arranhão do gato.
— É uma lesão em forma de caroços, que podem aumentar em número, sempre em linha reta. Eles costumam ser vermelhos, quentes e inflamar, gerando pus.
Chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos do INI/Fiocruz, Sandro Pereira afirma que gatos contaminados apresentam ferimentos, principalmente na cabeça, nas patas e na cauda.
— A maioria dos animais que atendemos reside em casas e tem por hábito passear nas redondezas. Nesses passeios, eles podem, em uma briga, contrair o fungo de um gato doente.
Dayvison Freitas destaca que a culpa pela proliferação da doença não é do gato:
— Ele é a maior vítima: adoece e precisa do humano para cuidar dele. É preciso que medidas de saúde pública sejam implantadas para levar os gatos doentes para abrigos e tratá-los.
DIAGNÓSTICO É FEITO POR ANÁLISE CLÍNICA
Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a esporotricose é uma micose que pode afetar animais e humanos. Não há vacina ou qualquer medicamento preventivo. A transmissão para o homem ocorre por meio de arranhões e mordidas do gato.
Sinais de contaminação em humanos aparecem, na maioria das vezes, em forma de lesões na pele, que começam com um pequeno caroço vermelho e podem evoluir para uma ferida. Geralmente, surgem nos braços, nas pernas e no rosto, formando uma fileira de caroços ou feridas. Nesses casos, donos de animais infectados devem procurar imediatamente o dermatologista.
O diagnóstico nos bichos é feito por um veterinário, por meio de análise clínica. O fungo pode ser encontrado em terra úmida e, para evitar o contágio, as pessoas devem usar luvas.
Para prevenir a contaminação do gato, o ideal é manter o animal restrito, em casa ou no quintal, sem acesso à rua, onde ele pode ter contato com felinos infectados.
Os bichos contaminados espirram com frequência e têm feridas, principalmente na cabeça. Mas os machucados podem surgir também nas patas e no rabo. As lesões são profundas, não cicatrizam, têm pus e se espalham para o restante do corpo. O animal perde apetite, fica apático e pode ter secreção nasal. O tratamento do gato e do humano contaminados é com comprimido antifúngico e dura, em média, de 4 a 6 meses.
*O Globo