Depois de quatro mortes, Sentinelas de Cristo voltam à Ponte Newton Navarro para impedir suicídios
Ao receberem a notícia de que o governo estadual receberá R$ 2,7 milhões da União para obras de prevenção ao suicídio na Ponte Newton Navarro, os Sentinelas de Cristo soltaram fogos e cantaram para comemorar. Em vídeo publicado no Instagram do pastor Rubens Medeiros, idealizador do projeto, o grupo celebrou a novidade com rojões e música.
Os Sentinelas, que haviam levantado acampamento no dia 5 de julho, uma sexta-feira, depois de dois meses e meio de trabalho, tiveram que rearmar as tendas no domingo, dia 7. Isso porque a saída foi fatal: quatro suicídios aconteceram após deixarem o local. “Se sairmos daqui, volta a acontecer”, lamentou o jovem sentinela Leandro Mateus.
Sentinelas colocaram cruzes na ponte em protesto às mortes por suicídio no local – Foto: Guilherme Arnaud/Portal No Ar
Apesar de comemorarem a liberação de verbas para as obras, a ação não tem previsão para encerrar novamente. O tempo de estadia é responsabilidade divina. “Isso aqui é uma obra de Deus, estamos pela vontade dele, não pela nossa”, explica o trompetista Murilo Soares de Oliveira.
Bandeiras com a palavra “Luto” também foram hasteadas no local – Foto: Guilherme Arnaud/Portal No Ar
O Portal No Ar esteve no acampamento para apurar a situação do grupo e conversou com o músico, de 56 anos, que está com os Sentinelas desde o início do primeiro acampamento e diz já ter perdido as contas de quantas pessoas salvaram. Mesmo assim, ele guarda uma cartela com os dados de cada pessoa salva em seus turnos. “Eu guardo aqui nome, endereço, contato. Só na minha cartela foram 100 pessoas salvas. Juntando com os registros dos outros, foram mais de 200”.
Menos gente, mais organização
Ele destaca a maior organização após a volta. “Antes, tinha muita gente. Muitos vinham para aparecer, para fazer transmissões nas redes sociais, mas não ajudavam. Agora, apesar de ter menos gente, estamos mais focados”.
O rapaz ainda conta que o grupo alugou uma casa próxima ao acampamento, no bairro da Redinha, zona Norte de Natal. “É uma casa de apoio. Não dormimos lá. Serve para fazer comida, refeições, banhos, orações e para guardamos as doações lá”.
Donativos continuam a chegar ao local. De acordo com ele, as providências chegam na hora certa, como obra divina. “É obra de Deus: estava dando a hora de fazer um lanche quando chegaram trazendo dois fardos d’água e maçãs, então fui levar aos sentinelas. Mais cedo, uma moça veio deixar legumes, que já servirão para o almoço”.
Oliveira guarda informações sobre pessoas salvas pelos sentinelas – Foto: Guilherme Arnaud/Portal No Ar
Oliveira estima que, desta vez, cerca de 100 pessoas trabalham no acampamento em diversas funções. “Tem cozinheiras, sentinelas, que ficam na ponte, o pessoal da base, que fica nas tendas, além dos que coordenam, que sou eu e mais três pessoas”. Antes, ele calcula, eram quase 300 pessoas nas atividades.
Com experiência adquirida no primeiro acampamento, eles aperfeiçoaram o trabalho desta vez. Ao invés de dormirem no local, eles revezam as atividades em turnos de seis horas. “É melhor trabalhar algumas horas e ir para casa descansar, enquanto outro trabalha, do que passar o dia inteiro. É preciso estar bem para esse tipo de trabalho”.
Apesar da orientação, Oliveira contou que estava há dois dias trabalhando. “Um dos colegas que também coordena o acampamento não pôde vir, então me ofereci para ficar no lugar dele”, explica enquanto tira cochilos, sentado, durante entrevista.
Carro virou quarto
O músico ainda mostrou seu quarto para a reportagem. O banco do carona do “Fusca Missionário” virou a cama dele. “Também construí outra cama do lado de fora, na parte de trás, onde duas pessoas dormem”.
Murilo dorme dentro do “Fusca Missionário”, como batizou seu carro – Foto: Guilherme Arnaud/Portal No Ar
O carro também serve de poste. Os faróis acendem à noite para iluminar o local. Além disso, também funciona como caixa de som. “Para não ficar um serviço monótono, mórbido, nós colocamos músicas, cantamos e dançamos para descontrair e desopilar”.
CVV
O Centro de Valorização da Vida, o CVV, é um serviço que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio 24 horas por dia, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat.
Para entrar em contato com o CVV, ligue para o número 188 ou acesse o site do Centro.
*Portal no Ar