O deputado estadual José Dias (PSD) ainda não sabe para onde vai depois que sair do PSD. Ao anunciar o rompimento com o governador Robinson Faria, a quem foi leal durante muitos anos, ele revelou emocionado que está arrasado com a atitude do chefe do Executivo. No fim da sessão que definiu a nova mesa diretora da AL, o rompimento entre os dois se concretizou na seguinte entrevista que Dias concedeu à imprensa:
O senhor está rompido com o governo de Robinson Faria?
Deputado José Dias: Plena e totalmente.
Já conversou com ele?
Não conversei. Fui à casa dele ontem, sem avisar evidentemente, porque quando se vai comunicar uma má notícia, não sei se pra ele, pra ele até pode ser uma boa notícia, mas não posso fazer esse julgamento. A gente vai até pela confiança. Fui. Cheguei às 12 horas, saí às 2h30. Pedi à senhora dele desculpas e pedi muitas desculpas de ter que deixar com ela o meu recado.
Qual foi o recado?
Que estava fora completamente do governo.
Por qual motivo?
Ele querer me utilizar como instrumento de traição. Eu não traio por interesse próprio. Não vou trair por nenhum rei.
O rompimento também é de amigo?
Não chego nesse aspecto porque aí não tá no campo político. Queria discutir o problema político. Queria dizer como Álvaro Moreira disse: as amargas não. No campo pessoal é amargo, mas prefiro esquecer essas amargas. No campo político fui absolutamente correto com ele. Fui solidário, quando ele estava sozinho. Fui solidário nas maiores dificuldades. Até quando ele não era candidato, porque houve momento em que ele só dizia a mulher dele e a mim que não tinha condição de ser candidato. Fui dormir muitas vezes achando que eu não era candidato, porque se a candidatura dele não vingasse eu não apoiaria outra candidatura adversária.
O senhor disse ontem que muita coisa poderia ser dita, poderia ser revelada? O que é isso?
O que posso revelar é no campo político. No campo pessoal não revelo nada. Vou levar para o túmulo. Se a amizade continua ou não é algo que não depende da gente, mas manter a dignidade a gente tem que manter. A gente não revela nem os amores nem as amizades pessoais e familiares.
O senhor aceita conversar com ele?
Não aceito conversar com ele em hipótese alguma.
Nem para tratar de algo pessoal?
Por ora não.
Mas o senhor votou em Ezequiel, candidato de Robinson.
Votei porque disse a ele que minha posição era de que tinha compromisso político que o governador tinha. E começam as revelações. Para aprovar o que se aprovou aqui na Assembleia, e olhe que o governo Rosalba teve dificuldades na questão do empréstimo… A fusão dos fundos previdenciários: conseguimos aprovar e digo a vocês que foi contrariando minhas convicções ideológicas porque foi contra minha concepção de administração, finanças e gestão responsável. Porque era sacar contra o futuro do Rio Grande do Norte, mas só tínhamos esse caminho. Se não fosse isso, o governo estaria devendo dezembro e janeiro. No governo anterior houve saque acima do permitido. Qual era minha expectativa? Que nós resolveríamos o problema de dezembro e faríamos esforço para diminuirmos os saques desse fundo, senão vai acabar logo. É um balão de oxigênio: se não for realimentado, se acaba. Para que isso fosse possível foi necessário haver acordo geral nessa casa. Eu briguei nesse período com a própria equipe do governo dele. Com pessoas ligadas a ele, que não queriam que o empréstimo fosse aprovado porque isso obrigaria o governador a cumprir os compromissos que tinham com Ricardo Motta. Esses compromissos foram acordados comigo inúmeras vezes e três vezes com ele, Ricardo e eu. Uma vez na governadoria e duas vezes na minha residência. Aqui na casa fizemos reunião com os deputados e eles me perguntaram: você avaliza esse compromisso? Disse que sim porque não poderia acreditar que Robinson me utilizasse como instrumento tão baixo de enganar os outros.
Vai fazer oposição ao governo?
Com certeza vou.
Vai deixar o PSD?
Claro. Não quero convivência com o governador. Vou pedir desligamento. Ainda não sei para onde vou. Vou esperar se vai haver a fusão do partido e saio automaticamente, senão vou pra justiça conseguir a minha alforria. Eu me sinto absolutamente livre para isso.
Em que momento o senhor percebeu que seria utilizado como instrumento de traição?
Quando Mineiro me disse no domingo de manhã que não havia conversado com Robinson. E na sexta-feira, no Abade, Robinson me disse que tinha conversado com Mineiro. Eu disse que era fundamental, pois se não fosse cumprido o acordo eu estaria totalmente desautorizado perante meus colegas. Tenho 28 anos nessa casa e não há um episódio que alguém possa dizer que não cumpri com minha palavra.
O senhor se diz decepcionado?
Não diria decepcionado. Se pudesse dizer uma palavra seria um pouco arrasado. Não digo com o ser humano porque somos frágeis. Mas ele me disse várias vezes: ‘se há uma pessoa para quem não posso mentir é você’. E isso é porque eu nunca menti para ele.
O poder mudou Robinson?
Não sei. Não sou psicólogo. Evidente que existe fértil literatura que aponta para esse lado, mas eu não sei.
Antes do episódio do restaurante, já havia auxiliares do governador trabalhando em favor de Ezequiel. Isso não era sintomático de como o governador também iria se comportar?
Todas as pessoas me diziam isso. Mas a todas eu dizia: fico com a palavra de Robinson. Mas não fico contra a minha dignidade. E minha dignidade está acima da palavra dele. Romper dessa forma é a maior surpresa. Mas também é graça de Deus. Rompi com os outros no último ano de governo, e nesse é o no primeiro ano, no primeiro mês.
Sua decisão é irreversível?
Se eu não tiver capacidade de manter a minha dignidade, eu estou, aí sim, liquidado.
Tradicionalmente o senhor é voz forte de oposição. Vai ser no governo Robinson?
Não consegui no governo Rosalba ser a mesma oposição que fui para Wilma. Mas digo o seguinte: os passos que vou dar aqui dependem não de mim, mas do governo.
Como ficam suas bases no interior? Qual sua orientação?
Tenho a maior preocupação com meus amigos e correligionários. Tenho a graça de Deus de dizer que não dependo do governo. Não depende de um favor do governo. Todas estão liberadas para tomar o destino que bem entender e com meu apoio. Quem me perguntar vou dizer que tome o caminho que bem entender. As pessoas que votaram em mim sabiam que eu não mentia, que não me acovardo e que eu não traio. Sabiam que eu sou solidário à palavra empenhada.
Por que o senhor acha que o governador achou assim com o senhor?
Você quer que eu faça um exercício de adivinhação. Não sei o que pensar de um homem que me disse na sexta-feira que Ricardo ia ganhar folgadamente e a coisa era exatamente o contrário. Eu confesso que não sei.
O senhor se arrependeu de votar em Robinson para governador?
Não me arrependo do que faço. Me arrependo muito mais pelo que não faço. Meus gestos são agônicos. São gestos que tomo e não me arrependo.
O senhor é capaz de se integrar à oposição coordenada por Henrique Alves?
Eu não vou especular, até porque são muito variadas, inclusive o grupo de Henrique votou em Ezequiel. Não tenho diálogo com Henrique e não passa por minhas preocupações hoje qualquer relacionamento político com ele. Minha preocupação era demonstrar a meus colegas que eu não estava mentindo. Quando eu disse a meus colegas que Robinson ia ajudar na eleição de Ricardo se Ricardo ajudasse na aprovação dos projetos… Robinson disse a Ricardo na minha frente: sou um homem grato e respondo com a mesma gratidão aos que fazem por mim. Perante meus colegas tinha a preocupação de demonstrar que falei com convicção. Meu respeito à palavra dele era quase sagrado. Tenho uma responsabilidade perante à opinião pública igual à mulher de César. Um político não deve apenas ser honesto, deve parecer e para parecer eu precisava tomar essa atitude. E tinha um exemplo a dar à minha família. Sou falho, mas procuro não ser vil.
Do Portal no Ar