Ebola quebra tradição na Libéria e faz vendas de caixão despencarem
Os caixões têm sido substituídos pelos sacos especiais para cadáveres, já que os fluidos corporais das vítimas de ebola são altamente contagiosos e devem ser cuidadosamente selados antes de um enterro ou cremação.
Funerais, que costumam ser grandes eventos sociais na Libéria, nos quais amigos e familiares se reuniam ao redor de um caixão aberto para se despedir do ente querido, também se tornaram uma memória do passado.
Mulbah é um dos gerentes da empresa Talented Brothers Casket Centre (centro de caixões irmãos talentosos, em tradução livre) na capital liberiana, Monróvia.
Antes da epidemia, Mulbah disse que os negócios iam bem. Mas “nos últimos dois meses, está difícil vender até mesmo um caixão por dia.
E, para complicar a situação de Mulbah, pessoas que haviam feito pagamentos adiantados para comprar caixões estão pedindo seu dinheiro de volta, diz ele.
Medo da infecção
Agentes funerários também estão sentindo os efeitos da epidemia, já que funerais tradicionais estão sendo abandonados.
“Preferimos perder dinheiro agora a fazer algo errado e ser infectado”, diz à BBC. “Então seguimos as políticas e restrições do governo.
Após resistência de algumas comunidades quanto a enterrar vítimas do ebola na sua região, o governo decretou a cremação de todos os corpos infectados.
“Sabemos que a cremação não faz parte da cultura do nosso país, nossa cultura é do enterro”, diz Tolbert Nyenswah, ministro-assistente da Saúde, que lidera a resposta oficial ao ebola.
No entanto, Nyenswah afirma que o medo da cremação tem levado muitas pessoas a ficar em casa em vez de buscar tratamento – tanto que há muitos leitos vagos nos centros de tratamento da doença.
“Temos a informação de que enterros secretos estão acontecendo nas comunidades; precisamos parar com isso e avisar as autoridades a respeito das pessoas doentes, para que elas possam ser tratadas”, diz ele.
“Perdi uma parente que nunca foi testado ou tratado. Ela morreu e seu corpo foi cremado”, disse o jornalista de TV Eddie Harmon, afirmando que a medida era “injusta”.
Quando a presidente do país, Ellen Johnson-Sirleaf, declarou estado de emergência em agosto, ela resumiu o desespero do país: “o ebola atacou nosso estilo de vida”.
Ele se apega à esperança, comum na Libéria, de que a chegada da estação seca, em breve, vai de alguma forma conter a epidemia (já que as fortes chuvas bloqueiam estradas e prejuicam os esfoços contra a doença, em um país com pouca infraestrutura).
“Queremos que o ebola se vá, para que possamos retomar os negócios”, diz.