Grifes que sangram: Reflexão sobre a crise de reputação que abateu as maiores marcas de carne do Brasil

Não analisei o conteúdo processual da investigação e as acusações contra as empresas frigoríficas. Mas já posso afirmar que é desproporcional a punição imputada às principais marcas brasileiras do segmento de carnes e derivados.
A máquina de moer reputações operou forte jogando na lama anos e anos, milhões e milhões de investimentos, valores tangíveis e intangíveis de grifes nacionais da carne, como Friboi, Sadia e Perdigão. Elas pagam um preço alto pelo conjunto de crimes e deslizes cometidos por executivos e operadores corruptos.
Neste momento, grandes escritórios e profissionais brasileiros que lidam com crises de reputação estão debruçados em solucionar mais uma missão impossível: Estancar a sangria da carne, diagnosticar as feridas e trabalhar para cicatriza-las. 

Mesmo ainda não restando nada comprovado, empresas e marcas valiosas são motivo de achincalhe avassalador nas redes sociais. São vítimas da mistura inflamada dos crimes descortinados com a sanha inquisidora da opinião pública.
O estrago de imagem é irreparável. Nem mesmo uma vida inteira de investimentos maciços em marketing com dezenas de Tony Ramos, Roberto Carlos, Robert de Niro e Fátima Bernardes serão suficientes para reverter o jogo da reputação perdida.
E olhem que este artigo é limitado a tratar, superficialmente, da crise de reputação. Sem abordar prejuízos financeiros, retração do consumo e repercussão internacional com a possível redução das exportações de carne e o forte impacto na balança comercial brasileira. 

O caso da carne transformado em espetáculo pela mídia e potencializado pelas indomáveis redes sociais, é mais um que merece reflexão profunda. E a primeira lição que surge é a famosa tese de que “O crime não compensa”.
O erro maior está na origem. É inadmissível que empresas de renome mundial como JBS e BRF, vistas pela sociedade e mercado como companhias éticas e responsáveis, se metam numa teia tão escandalosa de crimes graves contra os seus consumidores e o erário público.
Apesar de tudo, a análise e o julgamento dos fatos devem ser feitos com critérios e responsabilidade. É preciso separar o joio do trigo. E salvar o que for possível. As feridas são enormes, mas podem sarar. Apesar da enorme cicatriz em evidência, a vida segue seu curso.
Jean Valério – jornalista, especialista em marketing estratégico e em gestão pública com estudo sobre gerenciamento de crises de comunicação e imagem.

  *BG/Por Jean Valério
Postado em 19 de março de 2017