Lula: ‘Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela minha liberdade’
Suas mãos tremem um pouco quando começa a ler. Seu rosto fica vermelho olhando para o texto que traz um rosário de críticas contra seus julgadores. “Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira.” Lula critica o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela sua condenação, a Operação Lava Jato, e o procurador Deltan Dallagnol. “Reafirmo minha inocência, comprovada em diversas ações. Fico preso cem anos, mas não troco minha dignidade pela minha liberdade”. O silêncio é absoluto, apesar da presença de delegados da Polícia Federal e de três oficiais armados, todos a serviço da PF, que está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça, conduzido por Sergio Moro.
Lula está engasgado e sabe que esta entrevista é a oportunidade para falar depois de um ano silenciado pela prisão em abril de 2018. A conversa tem início e o ex-presidente ainda mantém um semblante sério. Mas uma pergunta quebra a rigidez. Quando é questionado sobre a morte do irmão Vavá, em janeiro deste ano, e do neto, Arthur Araújo Lula da Silva, de 7anos, dois meses depois.
“Esses dois momentos foram os mais graves”, lembra ele, citando também a perda do ex-deputado Sigmaringa Seixas, morto no final do ano passado. “O Vavá é como se fosse um pai pra família toda. E a morte do meu neto foi uma coisa que efetivamente não, não, não… [pausa e chora]. Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Porque eu já vivi 73 anos, eu poderia morrer e deixar meu neto viver.”
Lula diz que há outros
momentos que o deixam triste, com uma mágoa profunda. “Quando vejo essa
gente que me condenou na televisão, sabendo que eles são mentirosos,
sabendo que eles forjaram uma história, aquela história do powerpoint do
Dallagnol, aquilo nem o bisneto dele vai acreditar naquilo. Esse
messianismo ignorante, sabe? Então eu tenho muitos momentos de tristeza
aqui. Mas o que me mantém vivo, e é isso que eles têm que saber, eu
tenho um compromisso com este país, com este povo”, completa.
Começa a entrevista, que virou caso de Justiça.
Só foi realizada após a interferência do Supremo Tribunal Federal. Uma
conversa que vai durar duas horas. E o ex-presidente começa a relaxar. É
o Lula de sempre. Ele está igual. Quem esperava vê-lo envelhecido ou
derrotado, se frustra. Ele tem fúria. E obsessão para provar sua
inocência. “Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida.
Quem não dorme bem é o Moro, Dallagnol e o juiz do TRF-4 [que confirmou
sua condenação em segunda instância].”
Os detalhes desta conversa serão publicados ao longo do dia no site e nas redes sociais do EL PAÍS.
*MSN/El País