Lula superará Bolsonaro ao indicar Zanin. “Nunca antes neste país um presidente da República indicou seu próprio advogado para ocupar uma cadeira no STF”
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
“Isso é uma coisa tão minha que não quero repartir com ninguém”, disse o presidente Lula, ao ser perguntado por jornalistas sobre a indicação que fará ao Supremo e, que tudo sugere, será a de Cristiano Zanin.
Com a frase irônica, o presidente quis mostrar que não está dando a mínima para as críticas baseadas no inédito fato de que nunca antes neste país um presidente da República indicou seu próprio advogado para ocupar uma cadeira no STF.
Lula diz não querer “errar de novo”.
No seu primeiro governo, nomeações para os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) de todo país foram”terceirizadas” para profissionais da política como o ex-presidente José Sarney.
Para fazer indicações ao STF, o ex-presidente ouviu apelos de movimentos sociais e grupos identitários (como no caso das escolhas dos ministros Joaquim Barbosa e Carmem Lúcia) ou de aliados como os ex-ministros José Dirceu (Dias Toffoli) e dos já falecidos advogados Márcio Thomaz Bastos e Sigmaringa Seixas.
Lula afirma se arrepender de todas as nomeações que fez, à exceção de Ricardo Lewandowski, e já disse para quem quisesse ouvir que os rumos do mensalão e do petrolão teriam sido outros se o PT não tivesse sido tão “ingênuo” em suas escolhas.
Aparentemente, o presidente resolveu consertar um erro com outro.
Ao dar mostras de que irá escolher um nome que atropela o princípio da impessoalidade, potencializa conflitos de interesse, desperta a desconfiança de aliados e carece de apoio da classe jurídica, inclusive pela modéstia das suas credenciais acadêmicas, Lula faz letra morta do que afirmou em campanha (“Não é prudente, não é democrático um presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos” e “Eu não quero amigo em nenhuma instituição”) e se equipara ao seu antecessor — ou, por outra, o supera.
Jair Bolsonaro, a despeito de seus confessos critérios na escolha de André Mendonça (ser “terrivelmente evangélico” e “tomar cerveja comigo”) não ousou nomear para ocupar um lugar na mais alta Corte do país, seu advogado particular, Frederick Wassef.
Cristiano Zanin, “uma coisa” só de Lula, ao que tudo indica será uma coisa de todos os brasileiros — em breve e por muitas décadas para além do governo Lula.
*UOL- Thaís Oyama