Maurílio Pinto revela “corporativismo” encobrindo grupos de extermínio no RN

Com sua estrela “pendurada” desde agosto de 2011, o “Xerife” Maurílio Pinto de Medeiros ainda tem muito a falar sobre a Segurança Pública do Rio Grande do Norte. Segundo ele, há um corporativismo dentro da Polícia encobrindo a ação de grupos de extermínio, seja por amizade ou por medo de retaliação.
O delegado aposentado diz ainda que o baixo efetivo para combater a criminalidade crescente no estado faz com que os policiais fiquem desmotivados em fazer seu trabalho. Para Maurílio, o principal problema a ser enfrentado pela Polícia potiguar é o narcotráfico, crime que gera todos os outros, como assaltos e execuções.
Em entrevista ao portalnoar.com, o delegado ainda faz uma avaliação da gestão de Aldair da Rocha à frente da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) e defende o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 37, que ele chama de “PEC da legalidade”.
O “Xerife” ressalta ainda que não há “fórmula mágica” para reverter o quadro alarmante de criminalidade no RN, basta que existam policiais nas ruas prendendo os bandidos.

Portal No Ar – Existe corporativismo dentro da Polícia de modo a não denunciar os agentes de segurança integrantes de grupos de extermínio? Os policiais sabem que há colegas de profissão participando desses grupos e não prestam queixa sobre isso por quê?
Maurílio Pinto – Existe o corporativismo sim. Às vezes, é por amizade. Outros ignoram por acharem que esses grupos estão eliminando somente vagabundos. Mas, é principalmente por medo, pois sabem que esses policiais que participam das execuções podem agir e acabar não dando em nada para eles. Há quem, inclusive, mesmo sem participar dos assassinatos, dá cobertura às ações. Esses policiais agem de forma bem visível. Já ouvi o relato de um dos integrantes sair para executar alguém pilotando uma moto com uma espingarda calibre 12 nas mãos. Ninguém viu isso? Acho difícil. Eu ainda tenho uma lista com vários nomes de policiais que eram investigados por integrar esses grupos quando eu trabalhava. Alguns deles já estão presos, mas a grande maioria ainda está solta. Existem, ainda hoje, policiais civis, agentes penitenciários e, principalmente, policiais militares agindo nas execuções. E o grupo mais perigoso é o da zona Norte.
A Delegacia Geral de Polícia Civil está se esforçando para implantar a Divisão de Homicídios em Natal. Na sua opinião, essa seria a solução para o atual quadro de violência na capital potiguar?
MP – Ela não será a solução, mas parte integrante dela. Há mais de dez anos, enquanto ainda estava trabalhando, tentei criar essa divisão aqui em Natal. Espelhei-me naquilo que foi feito em Belo Horizonte (MG), ou seja, a divisão deveria investigar todo tipo de homicídio. Desde o sem-teto e o mendigo aos crimes de maior repercussão. O problema é que aqui a Polícia só se interessa pelos crimes que repercutiram na sociedade. A divisão tem de estar em todas as cenas de crime de assassinato para começar daí as investigações. Hoje em dia, as equipes das delegacias distritais e de plantão fazem somente ir aos locais do crime e não apuram nada. Aí, depois de um tempo, sem que se chegue a uma solução, o inquérito é repassado para a Dehom. O pior é que os policiais dos distritos,  não sei se por orgulho, acabam não passando as informações que colheram para os colegas que vão começar a investigar a partir de então.
Qual é o ponto mais fraco da Segurança Pública do RN e que precisa ser melhorado em muito?
MP – O combate ao tráfico de drogas precisa ser melhorado bastante, pois é ele por causa dele que os assaltantes e assassinos agem. A delegacia de narcóticos tem um efetivo baixo e não pode fazer muita coisa. Acredito que o melhor seria aumentar o efetivo nas delegacias distritais, para que as equipes de bairro tenham estrutura para investigar e prender os traficantes. São os agentes das distritais que têm o conhecimento do que acontece em suas áreas e deveriam ser incentivados a fazer ações para desbaratar bocas de fumo.
Que avaliação você faz da atual gestão de Aldair da Rocha na Sesed?
MP – Acredito que ele tenta dar uma melhor posição à Segurança Pública do Estado, mas precisa agir para acabar com a desmotivação dos policiais. Existem alguns ainda interessados em fazer seu trabalho com empenho, mas outros, simplesmente, não querem trabalhar. É o que acontece no combate ao tráfico de drogas. Que motivação o policial tem em fechar uma boca de fumo se ele não tem uma equipe grande o suficiente para ir lá e prender os bandidos? Ele só consegue ir e saber que o ponto de venda de drogas existe, mas não tem como prender.
O problema todo está no baixo efetivo, principalmente do policiamento ostensivo, da PM, que é quem previne o crime antes de ele acontecer. Não há fórmula mágica, tem de se botar policiais nas ruas patrulhando, prendendo bandidos. Outro problema está na nossa legislação. O policial pega o marginal, leva para a delegacia e, momentos depois, praticamente na frente dele, o delinquente é liberado pela Justiça.
Existe um certo clima de tensão entre a Polícia Civil e o Ministério Público por causa da PEC 37. Qual a sua opinião sobre o projeto?
MP – A PEC é totalmente legítima. Contudo, devido à campanha que o MP vêm fazendo no Brasil inteiro, chamando-a de PEC da impunidade, a sociedade em geral está contra ela. Mas o que as pessoas não entendem é que o projeto não vai tirar um direito do órgão, pois, na verdade, ele nunca teve esse direito.
Para mim, todo mundo deveria contribuir para as investigações criminais. Seja o MP, seja a PM ou qualquer outro órgão. Por um acaso é um crime se investigar? Acho que o sindicato dos policiais civis deu um tiro no pé em pedir que fosse suspensa a força tarefa que apurando os grupos de extermínio por achar que os PMs estavam investigando. Eles acham que os militares não podem investigar. Na minha opinião, eles podem investigar à vontade. Mas quem tem de presidir os inquéritos criminais é a Polícia Judiciária.
Por Paulo de Sousa/Portal No Ar 
Postado em 10 de junho de 2013