As investigações da Polícia Civil sobre o desmoronamento de rochas na Mina Bodó, que matou dois mineiros na última quinta-feira (22), indicam a tese inicial de acidente.
Nesta terça-feira (27), o terceiro homem que acompanhava as vítimas, o encarregado de turno e o gerente da empresa prestaram depoimento ao delegado Rafael Garcia, responsável pelo inquérito.
Além disso, uma gravação do momento do ocorrido, inicialmente negada, foi recuperada. O conteúdo da investigação está em sigilo.
A conclusão deve sair em 30 dias. Segundo o delegado, a gravação do momento do desmoronamento foi feita pelo terceiro operário, como parte protocolar de uma exigência do Exército Brasileiro para o uso de explosivos.
As vítimas estavam perfurando as rochas para a instalação dos artefatos. Inicialmente, a Polícia Civil afirmou que a gravação inexistia porque o momento de perfuração de rochas não era exigido pelo Exército.
No entanto, o funcionário sobrevivente falou no depoimento sobre a existência das imagens e as entregou a polícia. As imagens foram gravadas pelo terceiro minerador a uma distância de apenas dois metros e meio das vítimas.
Ele estava debaixo de uma estrutura de proteção, enquanto os outros dois estavam na zona de risco por serem os encarregados pela instalação de explosivos. No momento do desmoronamento, antes da instalação dos explosivos, o operador se desesperou ao ver os companheiros soterrados.
As imagens, segundo o delegado, são claras, mas curtas. “Uma nuvem de poeira surge muito rápido e o terceiro minerador se desespera ao ver o que aconteceu com os amigos”, conta Rafael Garcia.
A estrutura de proteção sob a qual o funcionário sobrevivente estava é formada por sacos de material sólido empilhados nas laterais e coberta com madeira resistente.
Ela é padronizada ao longo da mina. “Infelizmente, as vítimas estavam em um ponto da galeria que acabou desmoronando”, continuou o delegado. Inicialmente, ele afirmou que os estudos prévios do ponto da rocha também não indicaram nenhuma fissura.
Liberação da mina
Oito dias após o acidente, as atividades de exploração de scheelita na Mina Bodó estão liberadas por parte dos órgãos de controle e fiscalização. As condições da mina são consideradas aptas ao trabalho, apesar da fatalidade. No entanto, a operação ainda não foi retomada.
A Bodó Mineração, empresa onde as vítimas trabalhavam, está apenas com os setores fiscais e administrativos em funcionamento.
Segundo relatos de moradores do município de Bodó, a semana posterior ao desmoronamento foi para prestar apoio às famílias das vítimas. De acordo com o delegado, os órgãos não interditaram a mina. “Por raciocínio inverso, é como se estivesse liberado”, disse.
O aval foi dado pela Superintendência Regional do Trabalho, Exército Brasileiro, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema). “O que a gente comprova é que não havia risco premeditado e o que aconteceu foi uma fatalidade”, diz o delegado.
As investigações da Polícia Civil continuam. Ainda serão ouvidas outras testemunhas, citadas durante depoimentos anteriores. Os familiares das vítimas serão ouvidos e o sistema de comunicação dos mineradores – outro protocolo necessário para a segurança da atividade – também será analisado.
*Tribuna do Norte