‘Não poder se despedir é muito triste’, diz filho de homem morto por Covid-19 em Ipanguaçu, RN

Ailton com os filhos: Andrezza, Ailton Júnior e Bruno — Foto: Arquivo da família

Ailton com os filhos: Andrezza, Ailton Júnior e Bruno — Foto: Arquivo da família

O feirante Ailton Bezerra da Rocha tinha 52 anos de idade e morreu na noite desta terça-feira (21), vítima da Covid-19. Morador de Ipanguaçu, no Oeste potiguar, Ailton estava internado em Mossoró desde o dia 14. Foi a 30ª morte pela doença no Rio Grande do Norte. “Não poder se despedir é muito triste”, lamenta um dos filhos, Ailton Júnior.

Ele não pôde ver o pai depois de morto. As pessoas que morrem por causa do novo coronavírus precisam ser sepultadas em uma cerimônia rápida, com caixão lacrado. A última vez que Júnior viu Ailton foi quando ele estava sendo transferido para o hospital regional em Mossoró. “Não poder abrir o caixão, ver ele, é uma situação muito constrangedora”, reforça, emocionado.

O irmão do meio dos três da família também alerta para os perigos da Covid-19. “Não é uma doença fraca. É uma coisa sem explicação, muito rápida”.

Ailton Rocha estava internado no Hospital Tarcísio Maia, na cidade mossoroense, quando morreu. O corpo chegou a Ipanguaçu na madrugada desta quarta (22), para ser enterrado. Nas ruas do bairro em que viveu toda a vida, vizinhos e amigos de infância fizeram um “buzinaço” para homenageá-lo.

O feirante começou a sentir os sintomas da Covid-19 depois de voltar de uma viagem a Recife (PE). Ele havia ido vender frutas na Ceasa da capital pernambucana. Segundo o enfermeiro Charles Tavares, da Comissão de Enfrentamento à Covid-19 da Secretaria de Saúde de Ipanguaçu, Ailton Rocha deu entrada em uma unidade de saúde municipal no dia 11 de abril.

“Ele apresentava sintomas leves. Foi medicado e liberado para ir para casa, sob a condição de ficar em isolamento”, relata Tavares.

Dias depois, o paciente retornou à unidade. Os sintomas haviam se agravado. Ainda de acordo com Charles Tavares, foi aí que Ailton foi encaminhado para o Hospital Tarcísio Maia. Lá, deu entrada primeiro na Unidade de Pacientes Infectados (UPI), onde o quadro se agravou novamente e ele foi internado na UTI, e entubado.

Ailton Rocha permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva até esta terça-feira, quando foi confirmado o óbito. Ele tinha diabetes e também já teve complicações cardíacas no passado. O feirante era um dos dois pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus em Ipanguaçu, cidade que tem aproximadamente 15.400 habitantes.

Charles Tavares afirma que os familiares que conviviam com Ailton estão de quarentena e sendo monitorados pela Secretaria de Saúde, para o caso de apresentarem algum sintoma do coronavírus.

A esses parentes, resta a saudade. “Um homem trabalhador, uma pessoa que ia atrás do bem da família dele”, lembra Ailton Júnior. “Uma pessoa querida por todo mundo”, complementa, recordando a homenagem feita pelos amigos.

“Estava pronto para ajudar quem precisasse. Sempre foi um pai dedicado. Ele sempre cuidou muito da gente, de todos da família. Acordava todo mundo cedo pra gente ir atrás do nosso pão de cada dia, junto com ele. Aqui nunca deixamos de amar uns aos outros”, relata o filho.

*G1 RN

Postado em 22 de abril de 2020