No meio da caatinga e de cactos
A natureza ergueu um altar
Naquele cenário de impactos,
De fato , desejei alegre cantar.
Soltei minha voz na estrada
Meu coração era só emoção,
Diante da beleza encantada,
Cantei baixinho uma canção:
Quando um dia eu morrer
Quero amigos e cânticos
Ser sepultado ao amanhecer,
O alvorecer de doces encantos.
Levarei no coração a bravura de Lampião,
As ideias emancipatórias de Antônio Conselheiro
Homens que escreveram a história do sertão
Por fim, a fé do meu padim Cicero do Juazeiro.
Deus do universo de meus versos!
Que criou o homem do pó da terra,
A vaidade seguiu caminhos inversos,
Dando reverso no meu Pé de Serra.
Nas minhas mudanças e andanças
As canções eram desertos de solidão
Abro o relicário de minhas lembranças
No fervor dessa santa e bendita oração.
Naquele cenário, seco e acinzentado,
Revivi lembranças de tantas fomes
De amores e desamores cansados
Idolatrados por sentimentos infames.
Versejo as raízes dessa cultura,
Nascida na luta pela sobrevivência,
Na vivência, a perspectiva de futuro
No duro exercício da persistência.
As caatingas do meu Nordeste
A visão da dureza e da nobreza
Emolduram a paisagem agreste,
Realçando o dossel dessa beleza.
A geografia marca o corpo e a alma
Nessa convivência homem e natureza
A leveza da paisagem me acalma.
Está no calor humano a sua riqueza.
Antes de partir quero voltar ao Totoró,
Para rever pássaros, flores e amores
Colher a mais bela flor do algodão mocó
E prosar com analfabetos e doutores.
Poeta Francisco Cândido (Berto)
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