Paciente transferido para hospital de campanha de Natal é mandado de volta para UPA em menos de 24 horas por falta de UTI
Paciente transferido para hospital de campanha de Natal é mandado de volta para UPA em menos de 24 horas por falta de UTI — Foto: Cedida
Um paciente de 37 anos com suspeita de coronavírus foi transferido para o Hospital de Campanha de Natal na noite de segunda (11) e “devolvido” para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Potengi, na Zona Norte de Natal, menos de 24 horas depois. A esposa dele, Joelma Lima, disse que o marido ligou durante a madrugada pedindo pra alguém levar um nebulizador pra “ele conseguir respirar”.
O Hospital de Campanha de Natal começou a funcionar nesta segunda, após uma determinação da Justiça para que a unidade abrisse “imediatamente”. Poucas horas após a decisão, a Prefeitura de Natal emitiu nota informando que o hospital tinha recebido os dois primeiros pacientes. Um deles é José Aroldo da Silva que foi devolvido à UPA na manhã desta terça.
De acordo com a esposa do paciente, Joelma Lima, a equipe do hospital de campanha afirmou apenas que não tinha alguns dos equipamentos necessários para atender o paciente, mas não informou quais seriam.
A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a transferência do paciente de volta para a UPA ocorreu por causa do agravamento do quadro de saúde dele e que ele aguarda regulação para uma vaga de UTI no Hospital Municipal de Natal. A pasta ainda ressaltou que a unidade conta com respiradores.
O G1 questionou a pasta quais seriam os equipamentos que estariam em falta no hospital de campanha e o motivo de o paciente não ter sido transferido direto do Hospital de Campanha para o Hospital Municipal de Natal – que fica mais perto que a UPA de Potengi, porém não recebeu resposta sobre o assunto.
De acordo com Joelma Lima, o marido dela já fez o teste para o novo coronavírus, mas ainda não recebeu o resultado. O homem foi internado na última quarta-feira (6) na UPA Potengi, com dificuldade para respirar. De acordo com a esposa, ele começou a sentir os sintomas há cerca de 17 dias, mas quando procurou a unidade de saúde, os profissionais suspeitaram de dengue e mandaram ele de volta para casa. Ele só foi internado com o agravamento do quadro.
Na noite desta segunda-feira (11), junto com outro paciente, o homem foi transferido para o Hospital de Campanha montado pela Prefeitura de Natal na Via Costeira. “Cheguei em casa às 3h, mas ele mandou uma mensagem dizendo que não estava conseguindo respirar. Perguntei se ele podia esperar até hoje de manhã para eu ir lá. Mas hoje já fui avisada que ele tinha sido transferido de volta para a UPA”, afirmou Joelma.
De volta à UPA, o homem foi colocado em um balão de oxigênio, segundo a esposa. “Ele não está conseguindo respirar sem ajuda desses aparelhos. Ele está cheio de equipamentos. Nem consegue falar por telefone. A situação dele piorou”, disse a esposa, que aguarda por mais notícias do lado de fora da unidade. De acordo com ela, o homem precisa de uma UTI, mas ainda aguarda uma vaga.
Embora não tenha comorbidades, o paciente tem problemas no pulmão porque trabalhou por mais de 20 anos como pintor, sem equipamentos e proteção adequados.
No início da tarde desta terça-feira (12), ao citar a situação crítica de falta de leitos de UTIs para pacientes de coronavírus na região metropolitana de Natal, o secretário adjunto de Saúde do Estado, Petrônio Spinelli afirmou que o governo recebeu a informação de que o hospital municipal estaria com todas as suas UTIs ocupadas. “No Hospital Municipal, a informação que recebemos é que também está com 100% de ocupação”, declarou.
A secretaria municipal, no entanto falou que a ocupação dos leitos de UTI na unidade estava em 53%. De acordo com a SMS, apenas 9 leitos estão cadastrados no Ministério da Saúde e, por isso, o estado teria a informação de leitos indisponíveis, porém o município já teria solicitado o cadastramento dos novos leitos. Ainda assim, a pasta não respondeu porque, com a existência de leitos, o paciente em questão não foi transferido.
Hospital de campanha aberto por decisão da Justiça
Nesta segunda-feira (11), a Justiça determinou que a Prefeitura de Natal colocasse o Hospital de Campanha em funcionamento “imediatamente”, para atender os pacientes de Covid-19. Se não cumprisse a determinação, o Município teria que pagar multa de R$ 100 mil.
A decisão da 1ª Vara da capital atendeu a solicitações do Ministério Público e da Defensoria Pública, que alegaram a situação de emergência e colapso da rede pública de saúde em seu pedido.
A Justiça diz que o hospital deve ser aberto com os profissionais que já dispõe e que seja a realizada a contratação temporária direta de mais gente para atuar na unidade. “Seja realizada a contratação temporária direta de profissionais capacitados a ser realizada o mais rápido possível quando então deverão ser abertos e desbloqueados todos os 100 leitos clínicos e os 20 leitos de UTI destinados a pacientes atingidos pela pandemia do novo coronavírus”, diz a juíza Patrícia Gondim.
Neste domingo (10), o município publicou no Diário Oficial um decreto autorizando a contratação direta temporária dos funcionários que trabalharão no Hospital de Campanha. A prefeitura disse que a medida foi adotada por causa do cancelamento do contrato com a empresa para terceirização de mão de obra destinada aos trabalhos no combate à Covid 19 na unidade.
*G1 RN