Sábado e domingo de sepultamentos em dois Estados. A dor, vivida pelas famílias dos reféns assassinados, convive com a ausência de certezas e a indignação com palavras proferidas pelas autoridades, sobretudo o ministro da Segurança Raul Jungmann e o governador Camilo Santana.
Na manhã deste domingo, haverá o último sepultamento de refém: Francisca Edneide, única cearense, que vinha passar o Natal com os pais em Porteiras. No sábado, sob choro e aplausos, os corpos de cinco pernambucanos foram velados e sepultados em suas cidades de origem. Mas é só o começo de uma ação que ainda tem muito a ser esclarecida.
Os primeiros sepultamentos ocorreram no município de Serra Talhada, em Pernambuco. De João Batista Magalhães, 46, e Vinícius, 14. Pai e filho foram recebidos com aplausos na despedida pelas ruas da cidade, em frente à loja do empresário. O triste evento alterou a dinâmica da cidade de Serra Talhada, no Interior de Pernambuco, comovendo a população e espraiando um clima de tensão e tristeza.
Durante a passagem dos caixões, o comércio local fechou as portas.
“Vinícius era um menino muito bom. Amigo de todos e com um comportamento exemplar”, lembra André da Silva, treinador de futsal.
Indignação
No sepultamento, às 10h30, familiares e amigos relataram ao Sistema Verdes Mares a falta de esclarecimentos por parte da Polícia cearense. Uma indignação era consenso entre os presentes: a afirmação do governador do Ceará, Camilo Santana. Durante o lançamento do Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública, em Fortaleza, Camilo afirmou que “a intenção da quadrilha era assaltar o banco e não assaltou. É estranho refém, de madrugada, no banco”.
No mesmo evento, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, classificou o ocorrido em Milagres como “tragédias que acontecem”.
Eu queria que o governador do Ceará viesse ver o homem que mataram lá, a família. Ele era um cara legal, benquisto na cidade.
“Queria que visse o tanto de gente no velório, para quando começar a falar as besteiras saber primeiro quem são as pessoas. Aqui não tinha nenhum marginal”, afirmou Gilson Gomes, empresário e amigo de João Batista Magalhães.Segundo o radialista pernambucano Kaká di Macena, que acompanhou toda a repercussão do caso, a manhã de sexta-feira (7), sucessora da madrugada da “Tragédia em Milagres”, foi de agonia. “Primeiro, chegou a informação da morte de João Batista, e, no decorrer da manhã, chegou a confirmação das outras cinco pessoas. A cidade parou, foi uma comoção total.
O sentimento era de muita lamentação, até porque João era uma pessoa muito conhecida na cidade, muito benquisto por todos. A cidade ainda não conseguiu passar por esse momento de luto”, descreve ele.
O primo de João Batista, João Daniel, acompanhou o velório da família e revelou como as notícias chegaram a Pernambuco. “Era por volta de 6h, a Polícia ligou e já partimos direto pro Ceará, sabendo que só o João tinha ido a óbito. Mas chegamos e nos deparamos com uma cena totalmente terrível. Está muito difícil. A cidade tá toda parada, consternada”, declara.
Pai, mãe e filho
Os sepultamentos de Claudineide Campos, de 41, do marido, Cícero Tenório, de 60, e do filho, Gustavo Tenório, de 13 anos, aconteceram às 16h de sábado no Distrito de Carmo, em São José de Belmonte, Sertão de Pernambuco. A localidade praticamente parou para se solidarizar com a família enlutada. Parentes tentavam consolar a filha de 20 anos do casal, que estava muito abalada com a perda dos pais e do irmão mais novo.
*Diário do Nordeste