Bomba-relógio: ao segurar reajustes, governo apenas adia impacto na inflação
públicas, como combustíveis, energia elétrica, pedágios e transportes em
geral, com a ajuda dos governos estaduais e municipais, o governo armou
uma bomba-relógio, que poderá explodir no ano que vem ou no começo de
2015, já no governo do próximo presidente. Na avaliação de especialistas
ouvidos pelo GLOBO, a interferência artificial nos preços administrados
terá várias consequências no futuro: aumento da inflação, redução de
investimentos, queda na qualidade dos serviços prestados aos usuários e
aumento dos gastos do Tesouro para cobrir as defasagens sofridas pelas
empresas que prestam atendimento à população.
ex-diretor do Banco Central, o efeito já está sendo sentido pela
Petrobras e pela prefeitura paulistana. Segundo ele, o resultado da
estatal brasileira de petróleo foi prejudicado pela política de
contenção do preço do combustível no mercado interno em relação ao
praticado no exterior. Ele também criticou a suspensão dos reajustes das
tarifas de ônibus, sob o argumento de que os custos para as prefeituras
crescerão de forma substantiva — caso de São Paulo que, conforme o
economista, pagará um preço de R$ 3 bilhões por ano.
Associados, no mês passado, o preço da gasolina no mercado interno ficou
16% abaixo da cotação externa. Na refinaria, o preço internacional
subiu 6%, em função da valorização do dólar, alcançando R$ 1,54 o litro.
Já o preço doméstico ficou em R$ 1,29 o litro. Também em junho, a
cotação do óleo diesel lá fora aumentou 8% em relação a maio, atingindo
R$ 1,65/litro, no Brasil o valor negociado foi de R$ 1,58/litro, o que
representa uma defasagem de 4%.
doméstica, eu diria que o governo vai torcer pela queda do preço do
petróleo. Não vejo, no momento atual, possibilidade de o governo
aumentar o preço da gasolina. Por outro lado, o preço do diesel não está
tão atrasado — comentou Silveira.
da MCM, mostra que as últimas contenções de reajustes darão um
‘empurrãozinho’ para baixo no IPCA de 0,15 ponto percentual. Ela
acredita que uma saída para o governo, lá na frente, será negociar
reajustes menores com os setores envolvidos.
Na área energética, se este ano o preço da tarifa não teve impacto no
bolso no consumidor e na inflação, esta conta vai ser paga em 2014, e
não será pequena. Segundo uma fonte do próprio governo, a grande maioria
das distribuidoras deverá dar reajustes de 6%, em média.
Moreira classificou como uma manobra política o governo não ter
autorizado o aumento de 9,73% da Eletropaulo. Foram aplicados diversos
descontos ao consumidor e o índice caiu para 0,43%.
chefe da área de estudos monetários da Fundação Getulio Vargas, também
criticou o que chamou de “irrealismo de preços”. Ele lamentou que o
governo esteja tratando a inflação de forma episódica e não permanente e
advertiu que esse tipo de procedimento tira credibilidade dos
condutores da política econômica brasileira.
saem do controle, ou seja, quando se desancoram, os choques a que toda
economia está sujeita adquirem efeitos mais permanentes — disse Senna.
Instituto Brasileiro de Economia da FGV, lembrou que um dos cinco pactos
propostos pela presidente Dilma Rousseff é o da responsabilidade
fiscal. A questão, observou, é que o governo até o momento emite sinais
contrários e não explicou como funcionaria esse pacto.
como é que vai se tentar, no mínimo, atenuar os efeitos dessa bomba que
vai explodir. O governo está empurrando a poeira para debaixo do tapete,
mas haverá um momento em que faltará tapete para tanta poeira — disse.
Toledo destaca que, se a inflação continua em torno de 6,5%, significa
dizer que os demais preços da economia sobem a um ritmo bem acima dos
preços administrados, em torno de 7,5%.
— Estamos fragilizando a situação fiscal. No fim da história a gente
sabe onde a corda arrebenta, que é na parte de investimentos públicos —
disse Elói.
que, quando o preço da gasolina aumentar, o mesmo ocorrerá com o álcool.
Isso tudo terá impacto na inflação, o que reforça a necessidade de
melhorar as contas públicas. Ele lembrou ainda que o fim das
desonerações de tributos, adotadas para estimular o consumo, também
pressionará os preços daqui para frente.
americana e outros itens, é que a pressão sobre o real vai crescer. Essa
passagem da alta do dólar para os preços demora — comentou.
(Rio/SP) e na Ponte Rio-Niterói, que tiveram o reajuste adiado, o
governo federal vai compensar as empresas pelas perdas. A fórmula é
ressarci-las em dinheiro ou prorrogar o prazo da concessão, segundo o
diretor-presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de
Rodovias (ABCR), Moacyr Duarte.
de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Néspoli, disse que a
discussão sobre a redução das passagens de ônibus não é nova e já
aconteceu quando foi instituído o vale-transporte. Mas destacou que em
São Paulo 75% dos passageiros têm algum tipo de desconto, e em qualquer
política de redução tarifária o estado vai arcar com o ônus.
recursos virão do Tesouro. Assim, não há como financiar e alguém da
sociedade vai pagar mais por isso. Os governos já estão retirando
investimentos previstos nos orçamentos, não tem almoço grátis — disse
Néspoli.
e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para se
posicionarem sobre o adiamento das tarifas e as consequências futuras. A
Fazenda não respondeu e a ANTT informou que não iria comentar. Em
entrevista ao GLOBO, publicada no domingo (30/06), o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, assegurou que não haverá quebra de contrato, ao
comentar o temor do mercado de que as manifestações populares possam
prejudicar os leilões de concessão por causa do medo dos investidores de
que o governo queira mudar contratos. “Nós não rasgamos contratos”,
disse.
incertezas em relação ao futuro, menos investimentos o país receberá.
Como consequência, os setores que prestam os serviços públicos ficam
impossibilitados de melhorar a qualidade oferecida. Felipe Salto,
economista da Tendências, prevê que o cancelamento do reajuste dos
pedágios vai gerar insegurança dos investidores nas próximas concessões.
concessão diz que o reajuste seria pelo IPCA. Ainda que a suspensão do
reajuste seja bancada pelo governo, o problema principal é a
deterioração das expectativas — disse Salto.
O mesmo pensa o economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de
Negócios. Em sua opinião, há uma política de preços completamente
equivocada.
perito em gestão empresarial, reforçou que o foco do governo está
equivocado. Para ele, a inflação não é um problema monetário, mas de
investimento.
inflação com política monetária. Existe um aumento da renda do
brasileiro com as políticas sociais, como salário mínimo e Bolsa
Família. No entanto, é preciso uma política industrial para atender a
essa demanda — completou Moraes.