Juiz diz que foi atingido por bombas de gás lacrimogêneo.
Polícia Militar não comenta o caso.
O
senhor flagrado frente a frente com a polícia na manifestação desta
quinta-feira (27), na Avenida Dedé Brasil, próximo à arena Castelão,
afirma que, no momento da imagem, estava ”tomando satisfação” por ter
sido atingido por gás lacrimogêneo. Sílvio Mota, 68 anos, é juiz do
trabalho aposentado e coordenador do Comitê pela Verdade, Memória e
Justiça do Ceará. “Quem enfrentou a Ditadura Militar não sente muita
coisa diante daqueles pobres desgraçados que estavam lá”, disse,
referindo-se ao momento exato da fotografia. A comissão do Ministério
Público que acompanhou o protesto não havia constatado até esta
quinta-feira (27) excessos da PM.
O homem afirma que chegou até o bloqueio porque a polícia jogou bombas
de gás lacrimogêneo na manifestação, no local em que estava com a
esposa, chegando a atingi-los. “Eu fui protestar. Eles me agrediram. Me
levantei e fui tomar satisfações. Aquilo foi uma violação de tudo!”,
conta. A imagem foi capa da edição desta sexta-feira (28) da publicação
norte-americana ”The New York Times”
No momento em que chegou ao bloqueio, Sílvio conta que os policiais não
o receberam de maneira positiva. “Primeiro, eles tentaram dizer que eu
não tinha direito de ir até eles. Depois tentaram me prender. Precisei
mostrar minha identidade profissional, aí eles recuaram”, afirma. De
acordo com Silvio, ele se afastou para voltar à manifestação. Neste
momento, os policiais lançaram projéteis de gás lacrimogêneo. “Vi cinco
artefatos sendo jogados. Um deles pegou nas minhas costas”, conta.
Sílvio conta que foi à manifestação com o objetivo de protestar a favor
da reforma política através de plebiscito. “O Batalhão de Choque e a
Polícia Militar em geral não reagiram a provocações. Eles chegaram para
acabar com a manifestação”, completa.
Durante a manifestação a Polícia Militar soltou bombas de gás
lacrimogêneo para dispersar a multidão. “Tudo estava pacífico, mas a
frente vinham cerca de 100 rapazes exaltados e esses foram que
provocaram a confusão”, afirmou o funcionário do Ministério Público,
Alberto Bonfim.
Sobre o episódio envolvendo Sílvio Mota, a Polícia Militar informou que
tem nada a declarar. A PM ressalta, ainda, que toda a ação da polícia
foi legítima e acompanhada de perto pelo Ministério Público.
O protesto
Centenas de manifestantes caminhavam pela Avenida Dedé Brasil em
direção à Arena Castelão pedindo mais investimentos em educação e saúde,
redução do preço do ônibus e o fim dos gastos excessivos com a Copa,
entre outras reivindicações, até que, ao chegar à primeira barreira
policial perto da igreja evangélica Canaã, uma minoria quis forçar
passagem.
A partir de então, o Batalhão de Choque avançou sobre os baderneiros
que iam promovendo quebra-quebra à medida que recuavam. Um carro da TV
Diário, emissora local, foi incendiado e outro, da TV Jangadeiro,
apedrejado. Um ônibus que levava torcedores foi atacado por vândalos e
os passageiros tiveram de descer.
Fonte; G1