Dos R$ 5 mil mensais ganhos através do salário, um técnico em construção
civil natalense viu sua conta bancária inflar para os atuais R$ 62 mil
em menos de um ano e através de um modelo de “garimpagem” de recursos
que ainda gera dúvidas e desconfianças quanto à sua legalidade: o
TelexFree. No Rio Grande do Norte, pelo menos uma dúzia de pessoas já
chegou ao patamar de milionários com o TelexFree. Para os mais velhos, o
dinheiro que vem fácil vai embora ainda mais facilmente. Para os
jovens, porém, uma oportunidade de enriquecimento em curto prazo e sem
ilegalidades até agora comprovadas, mas sob investigação da Polícia
Federal e Procuradoria Geral da República em sete estados brasileiros.
No estado potiguar, o
TelexFree não é alvo investigatório do Ministério Público Estadual,
tampouco do Federal. Além disso, a Secretaria de Acompanhamento
Econônico do Ministério da Fazenda, encerrou o processo investigativo
contra a TelexFree pois não identificou a caracterização de captação de
recursos para formação de poupança. Mas, recentemente, a Secretaria
Nacional da Defesa do Consumidor, órgão vinculado ao Ministério da
Justiça, abriu investigação em desfavor da TelexFree.
Há suspeita
de formação de pirâmide financeira, na qual cada participante precisa
pagar para entrar e a cada novo membro agregado, há um ganho percentual
pelo que é conhecido como “team builder” (o líder do time) em cima de
cada um dos novos divulgadores. Até que se julgue o mérito da causa,
porém, a possibilidade de se obter sucesso similar ao do técnico em
construção civil que abriu esta reportagem, atrai um verdadeiro exército
de jovens, adultos e até mesmo idosos que sonham com algumas cifras a
mais em suas contas bancárias.
No Rio Grande do Norte,
entretanto, o TelexFree já não desperta mais o mesmo interesse da época
em que se tornou popular entre os potiguares, há quase um ano. Hoje, o
que se percebe, é a interiorização da captação de divulgadores, que tem
como objetivo comprar uma conta no valor de R$ 2.890, que serve como
adesão e pela qual recebem 55 linhas, que correspondem a um pacote de
serviços Voip. Os divulgadores precisam vender o sistema de ligação
ilimitada através da internet, o Voip, e realizar cinco anúncios
diariamente em sites gratuitos, através do sistema de marketing
multinível (anúncio boca-a-boca) pelos quais recebem R$ 200 semanais.
Em
Natal, porém, a maioria dos divulgadores do TelexFree recuam quando
questionados se renovarão seus contratos quando completado um ano de
adesão. “Hoje, eu não sei se entraria no TelexFree. Eu percebi que o
sistema não se sustenta e é mantido por quem entra”, afirma uma
professora de história que é dona de uma conta no TelexFree.
Ela
confirma que jamais vendeu um único sistema de ligação via Voip da
TelexFree e não acredita na qualidade do serviço. “Estou pelo dinheiro”,
assevera. Diferente da venda de outros tipos de serviços e produtos, o
TelexFree atrai cada vez mais pessoas com nível superior e empresários.
Assim
como a professora de história, o próprio técnico em construção civil
diz que, se fosse hoje, não se tornaria um divulgador da TelexFree. Isto
porque, com o passar do tempo e o inchaço causado em decorrência da
propaganda de ganhos excessivos de forma fácil e sem sair de casa,
muitas pessoas se tornaram divulgadoras. O próprio técnico, é dono de 46
contas hoje em dia. Para administrá-las, ele contratou um assistente ao
qual paga, mensalmente, o salário de R$ 1.500.
Para o economista
Aldemir Freire, porém, os ganhos fáceis e exorbitantes são duvidosos.
Ele alerta que o cidadão deve ficar atento às ofertas de lucro rápido e
fácil sem sair de casa. “O risco principal é o de perder tudo o que foi
investido. Existem pessoas que fizeram empréstimos para investir no
TelexFree. É preciso cautela”, alerta o economista.
Da Tribuna do Norte