‘PM não nos deu atenção’, diz mãe de doente mental estuprada no município de Bodó

De Jocaff Souza – Do G1-RN/Serrinha de Fato:

A Polícia Civil
investiga denúncias contra um homem suspeito de ter estuprado uma jovem
de 18 anos nesta última quarta-feira (30) na zona rural de Bodó,
município distante 135 quilômetros de Natal,
e também apura a conduta de policiais militares que atuam na cidade. A
vítima, segundo a família dela, tem problemas mentais. Em entrevista ao
G1, a mãe da jovem afirma que a Polícia Militar foi avisada do crime,
mas os soldados teriam se recusado a atender a ocorrência porque a
delegada da região não estaria na cidade.








“Eles mentiram para a
mãe da garota. Em nenhum momento recebi qualquer ligação destes
policiais. E eles também não ligaram para o delegado de plantão, que
fica em Caicó. Agora, como não houve flagrante, o suspeito está solto.
Vou instaurar um inquérito para apurar a conduta destes policiais
militares e comunicar o ocorrido à Justiça”, afirmou a delegada Paoulla
Maués. Ela reside na cidade de Santana do Matos, que fica a pouco mais
de 25 quilômetros de Bodó.








Por telefone, o capitão
Moacir Galdino, comandante da PM responsável pela região de Bodó,
admitiu que não estava sabendo do fato, mas que irá procurar os
policiais envolvidos para também apurar o que aconteceu.
 







A mãe da jovem, que
pediu para não ser identificada, contou que após a recusa dos policiais
militares, conseguiu falar com a delegada na manhã desta sexta (2).
“Quando eu fui ao destacamento da PM, onde também funciona a delegacia,
os soldados não me deram atenção e disseram que não podiam fazer nada
porque a delegada não estava de plantão. Mas eu consegui falar com ela
hoje. A delegada me disse que não foi avisada sobre o caso. É uma
situação muito constrangedora ter uma filha violentada, procurar a
Polícia Militar e ter o socorro negado. Me senti diminuída”, declarou.








Sobre o estupro, a mãe
contou que a filha saiu de casa para se encontrar com o suspeito, com
quem havia passado o dia conversando. “Ela saiu durante a madrugada e
não demos conta. Perguntei para minha outra filha onde a irmã estava e
ela disse que não sabia. Por volta das 3 horas ela voltou muito abatida e
triste. Tentei conversar, mas ela não conseguia falar nada”, relatou a
mulher.








‘Faria de novo’








Também em contato com o
G1, a delegada contou que só tomou conhecimento do que havia acontecido à
jovem na manhã desta sexta. Isso porque a mãe da vítima ficou indignada
com alguns comentários que ouviu pela cidade. “Como o suspeito ficou
solto, ele andou dizendo que fez sexo com a garota e que faria de novo,
porque a polícia não tinha acreditado na história da garota e que eu não
estava nem aí para a denúncia da família. A mãe ficou revoltada, claro,
conseguiu o número do meu celular e ligou para mim. Foi quando fiquei
sabendo da história toda”, revelou Paoulla.








Após conversar com a
delegada, a família levou a jovem para a cidade de Caicó, na região
Seridó do estado, onde foi submetida a um exame de conjunção carnal. A
laudo pode comprovar se houve o abuso. A mãe não soube informar quando o
resultado ficará pronto. “Estou muito preocupada com minha filha. Ela
toma oito remédios diferentes e que afetam o humor dela. Quando nós
estivemos na delegacia para o depoimento com a delegada, na manhã desta
sexta, ela não disse muitos detalhes porque ainda está com muito medo.
Ela deve ter sofrido alguma ameaça e não consegue falar sobre o
estupro”, acrescentou a mãe.








“É muito difícil uma mãe
passar por uma situação como essa. Eu estou totalmente acabada. Isso
não pode ficar impune, porque mesmo sendo uma pessoa já maior de idade,
minha filha não tem noção do que é certo ou errado”, disse, emocionada.








Paoulla Maués também
disse estar muito abalada com o acontecido. “Se a família está abalada,
eu também estou. Nós combatemos muito a violência contra a mulher. E
mais indignada ainda pela falta de atendimento à esta mãe e pela jovem,
que tem distúrbios mentais. Até hoje de manhã sequer havia um Boletim de
Ocorrência registrado na delegacia porque a família foi prestar queixa
mas a Polícia Militar não atendeu a ocorrência”, desabafou a delegada.








A delegada disse ainda
que manteve contato com a juíza plantonista da cidade e está aguardando o
envio da documentação com o resultado do exame pericial para que seja
aberta a investigação sobre o caso.
Postado em 3 de maio de 2014