“Siririca molhada”: oficina ensina teoria e prática de ejaculação feminina

Uma, duas, três vezes. Esse foi o tanto que Thiare gozou até sentir um jato de água mais forte saindo do próprio corpo na quarta vez. Era a sua primeira experiência com a ejaculação feminina , também conhecida como squirting. “Eu resolvi me masturbar várias vezes e foi uma surpresa, foi curioso”, conta em entrevista ao Delas.
Muita gente acredita que a ejaculação feminina é um mito. Na verdade, assim como vários temas ligados à sexualidade da mulher, esse é mais um assunto pouco explorado e, por isso, gera dúvida. De acordo com especialistas, mulheres podem, sim, ejacular e, ao contrário do que se imagina, o ato não está ligado a um orgasmo mais ou menos intenso.
Você pode sentir muito prazer e não ejacular, assim como pode ejacular sem ter sentido o maior orgasmo da sua vida. A ejaculação nada mais é do que um líquido expelido pelas mulheres quando determinada glândula é estimulada.
“É um líquido que sai da próstata feminina, um órgão feminino conhecido como ponto G ou glândula Skane”, explica Sue Nhamandu, psicanalista e instrutora da oficina “Siririca molhada”, onde propõe às mulheres repensar o sexo e a sexualidade, além de ensinar como ejacular.
Ao Delas , a especialista explica que é o mesmo líquido que sai da próstata masculina, mas com uma quantidade maior de água e ureia e, claro, sem espermatozoide. Por isso, algumas mulheres acham que fazem xixi durante o sexo ou a masturbação, quando, na verdade, ejaculam.
Desde que ejaculou pela primeira vez, Thiare passou a buscar cada vez mais informações sobre o assunto. Criadora do site “Heretica.co”, onde discute sexualidade e heteronormatividade, conheceu o trabalho de Sue e se interessou pela oficina proposta pela psicanalista.
Lá, vivenciou algo único e transformador. “Conseguir pensar o sexo de uma maneira um pouco mais desintoxicada foi bastante importante”, conta.
Detalhes da oficina de ejaculação feminina
“Siririca molhada” é uma vivência idealizada por Sue com o objetivo de empoderar outras mulheres para que descubram o poder da ejaculação. Dividida em uma parte teórica e outra prática, a oficina provoca as participantes a pensar o sexo sob uma nova perspectiva e apresenta informações e técnicas de ejaculação feminina.
Sentadas em círculo, na primeira parte da oficina as mulheres têm contato com teorias da filosofia e da ciência sobre heterossexualidade e gênero, momento em que Sue propõe reflexões sobre sexualidade e liberdade política.
Já a parte prática é dividida em três momentos. A instrutora convida as mulheres a carimbarem a sua própria vulva em um papel. “É um momento lúdico do curso para deixá-las mais confortáveis com a ideia de tirar a parte de baixo da roupa”, conta. Para isso, elas passam beterraba na parte externa da vulva e carimbam em um papel.
Depois, é hora de partir para as técnicas de ejaculação. “Eu convido as meninas a usarem uma luva descartável e, com um pouco de lubrificante, as convido a inserirem a mão na minha vagina para que elas possam encontrar a próstata através do meu corpo”, relata. Depois disso, para aquelas que têm interesse, Sue veste uma luva e ensina cada uma a encontrar a sua própria próstata.
Em seguida, as participantes escrevem e compartilham com as outras mulheres da oficina um sonho erótico. “É para contextualizar o erotismo fora do corpo do sujeito”, explica a instrutora. Então, elas partem para a masturbação na tentativa de vivenciar a ejaculação sem a ajuda de Sue.
Para Thiare, participar de momentos como esse foi uma forma de conhecer mais sobre a anatomia do próprio corpo, além de exercer a confiança e quebrar certos tabus. “Fizemos perguntas sobre medicina e anatomia e trocamos fantasias. Foi surpreendente e poderoso”, lembra.
Como chegar lá?
Para algumas mulheres, a primeira ejaculação acontece como uma surpresa na hora do sexo ou da masturbação, sem que elas estejam esperando. Para outras, é preciso treino e técnica. Sue conta que para que tivesse uma ejaculação em todas as suas masturbações, precisou se masturbar durante quatro meses todos os dias. “Como uma ioga da vagina”, explica a especialista.
A psicanalista comenta que suas alunas que levam a prática a sério e se masturbam diariamente também passam a ejacular. Essa prática de masturbação diária, com estimulação clitoriana, é fundamental para conseguir ter orgasmos. “Quando você passar a ter orgasmos, você passa a pensar no squirting”, diz.
Sue também dá outras dicas que são fundamentais para conseguir ter a tão desejada ejaculação feminina. “A maneira mais eficiente de garantir que você tenha um squirting é, em primeiro lugar, não ficar preocupada em tê-lo. É um processo lento e você precisa respeitar o processo do seu corpo”, explica.
A segunda coisa que a mulher deve fazer é sempre se manter bem hidratada – o ideal é beber até três litros de água. Se você não bebeu muita água naquele dia, dificilmente vai ejacular. “Tenha certeza de que você está com a sua saúde física, mental e emocional funcionando de maneira holística e não só pensando no seu corpo genitalmente”, completa.
A maneira mais interessante de ter a ejaculação é massagear o ponto G. Para encontrá-lo, a forma mais fácil é inserir o dedo na vagina e fazer um movimento de “vem cá”, procurando pelo ponto próximo à região mais esponjosa.
Além das dicas da psicanalista, Thiare completa incentivando as mulheres a buscar informação sobre a ejaculação feminina , porque, ao contrário do que muita gente diz, ela realmente pode ser vivenciada. “Eu diria para as mulheres que ainda não ejaculam: vocês podem ejacular. É uma questão de prática, de anatomia e de fisiologia”, fala.
*IG
Postado em 21 de março de 2019