Um ano após prisão de Lula, PT se divide entre pedido de liberdade e oposição a Bolsonaro

Exatamente um ano depois da prisão de seu principal líder, o PT ainda está, nas palavras de um de seus mais influentes dirigentes, numa “encruzilhada”. O partido tenta encontrar um caminho entre a defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a construção de um projeto alternativo ao bolsonarismo para tentar voltar ao poder.

Reservadamente, os petistas admitem que Lula, 73, dificilmente voltará a disputar uma eleição. O ex-presidente está inelegível até 2038, com base na Lei da Ficha Limpa, por causa da condenação a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). O petista tem mais uma condenação em primeira instância e responde a outros seis processos.

O quadro de inelegibilidade só poderia ser revertido se os tribunais superiores anulassem a condenação de segunda instância do caso triplex. Poucos aliados, porém, acreditam nessa possibilidade. Nos tribunais, a maior esperança é conseguir uma progressão para o regime domiciliar. Isso aconteceria se o Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolvesse o petista do crime de lavagem de dinheiro, o que reduziria a pena.

Nenhuma liderança petista cogita virar as costas para Lula neste momento porque a história dele e a da sigla se confundem – e por razões humanitárias.

O ex-aliado Ciro Gomes (PDT) tem feito críticas públicas à defesa da liberdade do ex-presidente e descartado uma união com os petistas na oposição a Bolsonaro justamente por esse motivo. Até partidos como o PSOL e o PCdoB, que participam de atos pela liberdade de Lula, se queixam que a saída do ex-presidente da prisão não pode ser a bandeira principal da oposição. A avaliação é que seria preciso construir um novo projeto que conquistasse a população.

O próprio Lula tem afirmado para os que o visitam na Superintendência da Polícia Federal do Paraná que não acredita que os tribunais irão lhe beneficiar com a liberdade nos próximos meses. Na semana passada, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, adiou, sem definir nova data, o julgamento sobre o cumprimento de pena após a condenação em segunda instância, que estava marcado para a próxima quarta-feira. Se a Corte revisse a posição, o petista seria solto

Esperança

Para Lula, só a mobilização popular pode tirá-lo da cadeia. Por isso, o candidato derrotado do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, pegou a estrada neste fim de semana. Esteve na última sexta-feira em Porto Alegre e, neste sábado, em Florianópolis. Hoje está previsto um ato político na frente da sede da PF no Paraná para marcar um ano da prisão. A ideia é fazer dois ou três eventos da caravana “Lula livre com Haddad” por mês em todas as regiões do país.

Sem alternativa, o PT tenta juntar a mensagem em defesa da liberdade de Lula com o combate às propostas do governo Bolsonaro.

“O Lula livre é um guarda-chuva onde estão as demais bandeiras. Queremos o Lula livre para defender a aposentadoria do povo, para lutar contra a entrega do patrimônio nacional e a favor da educação”, afirma Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do partido.

Em sua atuação no Congresso, o PT também pretende misturar a defesa de seu líder com as críticas ao governo. Para o deputado José Guimarães (PT-CE), integrante da direção nacional do partido, “soltar Lula e barrar a reforma da Previdência” estão entre os principais objetivos para este ano.

“Não daremos trégua para o governo. A oposição será como nós fizemos com o (ministro da Economia) Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados”, disse.

*O Tempo

Postado em 7 de abril de 2019