‘Uma galera não entendeu o grito ‘não vai ter Copa”, diz diretor de filme sobre protestos
No momento em que as ruas do Rio começaram a se incendiar, a gente ficava naquela agonia de quem precisa se manifestar. Então a gente sentiu que precisava fazer um filme como uma manifestação: trazendo o que cada um quer expressar, a partir de uma energia comum que moveu a todos.
A nossa ideia nunca foi tentar fazer um relato completo de todos os acontecimentos desses dias loucos. “Rio em chamas” é uma espécie de filme-manifestação: cada um tem algo a mostrar e dizer, sem que os outros controlem isso; mas existem questões em comum e uma energia própria dessa união que fazem o coletivo se mover numa determinada direção.
Como consequências das manifestações, houve um debate muito acirrado sobre representação na mídia brasileira.
Acredito que a dita grande mídia começou a perceber o poder crescente dos registros independentes, sejam estes amadores ou profissionais. Mas o que me impressiona mais não é o que foi aprendido, é o que segue sendo ignorado.
Vocês tiveram dificuldade em conseguir exibir o filme? Algum cinema se recusou? E vocês planejam alguma estratégia especial para o filme ser visto pelo maior número de pessoas?
Não tivemos nenhuma dificuldade até agora – ao contrário, o pessoal do Estação logo mostrou interesse em exibi-lo aqui no Rio. Nossa estratégia é tornar o filme disponível para quem quiser assistir: além de estar em cartaz nos cinemas (atualmente no Cine Odeon), “Rio em chamas” estará acessível na internet e vamos liberar para quem tiver interesse em exibir. Festival, cineclube ou o que seja, qualquer um pode exibir ele onde for, não precisa nem pedir autorização. Como é um filme sem interesse lucrativo, a gente leva fé no boca a boca e na curiosidade das pessoas para ver o que o filme mostra.
Acredito que podem acontecer alguns jogos de futebol, mas a festividade que ficou na memória até mesmo de copas que perdemos, essa aí parece complicada de acontecer. Parece que uma galera não entendeu o sentido do grito “não vai ter copa”. Também não adianta entender ao pé da letra “eu quero o fim da polícia militar”, como dizia outro grito das ruas: o problema não vai se resolver se a polícia militar for trocada por uma polícia civil igualmente violenta. A questão é que as pessoas que foram às ruas sentiam que seus direitos estavam sendo desrespeitados – e a resposta do Estado para isso foi jogar mais bombas de gás em cima de multidões. Por isso que a gente fez o nosso filme.
O Globo